segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Resenha: João e Maria


autor/adaptador - Neil Gaiman
ilustrador - Lorenzo Mattotti
editora - Intrínseca
assunto - fantasia/conto de fadas/juvenil
ISBN - 8580577764
preço sugerido - R$34,90

Neil Gaiman sempre foi um grande mestre em contar histórias e sempre transitou muito bem entre gêneros, desde quadrinhos, romances adultos e juvenis, roteiros de filmes e séries e até mesmo livros infantis. Sua maior característica é explorar nossos medos e abordá-los de forma que nos pareçam coisas simples de suportar, nos dando esperança em meio a um caos assustador. Seus personagens infantis sempre foram muito corajosos com relação a enfrentar aquilo que os adultos normalmente encaram como impensável para crianças, caso de Coraline e do garoto sem nome de "O Oceano No Fim Do Caminho". Aqui ele consegue transpor a visão assustadora de abandono abordada no famoso conto dos irmãos Grimm, e com as ilustrações de Lorenzo Mattotti, o livro ganhou uma atmosfera ainda mais sombria, o que poderá assustar os pequenos, mas agradar aos jovens a partir dos 7 anos. Nesta sua versão, ele nos dá uma breve introdução de como era o período em que se passa a história, em que a guerra trouxe fome e devastação para a Europa, obrigando muitos pais a abandonarem seus filhos por não terem o que comer e preferem a morte a verem seus filhos vivendo com fome.
Foi essa a justificativa que a mãe das crianças utilizou para abandoná-las e também a justificativa da bruxa, que nesta versão da história é apenas uma velha senhora que anseia por um pouco de carne. O que também foi explicado na introdução é que, por falta de carne, parte da população adquiriu hábitos canibais para não morrer de fome, o que foi o caso da bruxa. Percebe-se que ela tem momentos de lucidez, em que trata Maria com um pouco de gentileza, mas logo após volta a humilhá-la como sempre. João ficava amarrado no porão da casa de doces e era alimentado com frequência pela bruxa para mantê-lo gordo o bastante para o abate.
Com o tempo, as crianças vão mostrando esperteza e coragem para enfrentarem a situação. Aqui, ambas as crianças têm seus momentos de destaque. Quando os pais tramam de levar as crianças para a floresta e "perdê-las" lá, é João quem descobre o plano dos pais ao ouvir seus sussurros no meio da madrugada e trama o caminho de volta com pedaços de pão. Na primeira vez eles conseguem voltar, para alegria do pai e desapontamento da mãe. Na segunda vez em que os pais traçam o plano, um passarinho come os farelos de pão, o que deixa eles perdidos no meio da floresta. Neste caso o destaque de esperteza foi de João. Já para fugirem da bruxa, quem tem a ideia de por a bruxa no fogo no lugar de João é Maria. A bruxa pede para que ela acenda o fogo e verifique até que esteja quente o bastante e Maria finge que não sabe ver o fogo. Então quando a bruxa vai fazer uma demonstração de ver como está o fogo, Maria aproveita a oportunidade e a empurra no fogo. Depois de verificar que ela está realmente morta, Maria pega as chaves e liberta o irmão, não sem antes roubar todo o ouro e outras fortunas que a bruxa tinha guardado de suas vítimas anteriores.
Ao voltarem pra casa, levaram todas as riquezas da bruxa, e encontraram apenas o pai a espera deles. A mãe das crianças já estava morta pela fome. Com todo o ouro, os três viveram uma vida longa e feliz.
A adaptação de Neil Gaiman tornou a história ora assustadora, ora encantadora, como só ele sabe fazer. Enriqueceu mais ainda personagens que já eram clássicos em nossas memórias e os reviveu de forma impressionante. Aguardo ansiosa para ler a sua próxima adaptação "A Bela e a Adormecida".


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