Meu
texto especial do Dia dos Namorados é uma história baseada em fatos reais, algo
que aconteceu no meu trabalho. Eu e outras pessoas testemunhamos ao vivo a
força do amor vinda de um casal apaixonado. Espero que gostem.
Bastou um
olhar...
Ele
estava esperando havia um bom tempo. As pessoas começaram a olhar estranho para
ele, parado ali daquele jeito, atrapalhando a circulação das outras pessoas que
precisavam ir e vir pela loja. Estava começando a cogitar a possibilidade de
desistir e ir embora dali. Ela não apareceria. Sequer estava atendendo ao
telefone. Resolveu esperar mais um pouco, afinal, não tinha mais nada pra fazer
além de esperar por ela. Desde que a conheceu sua vida tem sido assim: sonha
com ela, pensa nela acordado, respira o cheiro dos cabelos dela e sente o toque
de seus dedos a acariciá-lo. Isso tudo em sua mente. Quando estava com ela
pessoalmente, mal podia acreditar na força do destino ao fazer com que se
encontrassem e se contentava em apenas olhar pra ela sem se cansar, só na
intenção de guardar dentro de sua mente todas as sensações que estar com ela
lhe proporcionava. Tudo era mais belo por ela, para ela e com ela. Cada vez que
se lembrava da primeira vez em que olhou naqueles olhos, dava um leve suspirar
de amor que ele acreditava não existir.
Agora
estava parado ali, de pé diante da entrada do local em que se conheceram,
segurando um buquê de rosas vermelhas e um livro. Funcionários e clientes
olhavam para ele, uns admirados, outros com desdém, outros como algum tipo de
louco. Pessoas sussurravam que ela não apareceria, mas ele tentava não ouvir,
embora começasse a pensar se ela realmente apareceria, se pensava nele como ele
pensava nela.
Ligou
para ela mais uma vez e então começou a se lembrar daquele dia. Bastou um olhar
e tudo começou...
Tudo
o que ele queria era encontrar um lugar em que pudesse sentar e ler um bom
livro. Fechar seus olhos e esquecer o resto do mundo, que tudo ao seu redor
desaparecesse por alguns minutos. Tudo o que ele queria era encontrar uma
cadeira vazia naquela livraria e sentar e ler um livro. Fazia tempo que ele não
se dedicava à arte de ler um bom livro, ler por ler, sem nenhum objetivo além
do prazer da boa leitura. Naquele dia, ele não estava à procura de nada nem de
ninguém, ele deixaria tudo acontecer por acaso, esperaria para ver o rumo que o
destino levaria a sua vida.
Era
uma linda tarde de verão, o tempo estava ameno, mas dentro da loja os donos
sempre tratavam de exagerar no ar-condicionado. Embora sempre houvesse uma
música tocando, naquele momento a loja estava em silêncio. Ele parou para
observar e ouvir o silêncio, apreciar o momento, e quando achou que não havia
nada demais para ser ouvido, resolveu ir até a prateleira mais próxima pegar um
livro para ler. Foi então que ao mesmo tempo seus dedos se encontraram com os
de uma garota que estava ao seu lado, alguém que ele não notara em meio a todo
aquele silêncio. Ele olhou nos olhos dela e viu os castanhos como as
profundezas da terra e do infinito. Se este tivesse uma cor, seria castanho
como os olhos dela. Eram olhos castanho escuros como o outono, como o
entardecer, um crepúsculo dos deuses a saltar dos olhos dela.
—
Me desculpe. – disseram os dois ao mesmo tempo.
Ele
não conseguia tirar os olhos dela. Ela estava pouco à vontade com o olhar dele
e resolveu quebrar o gelo:
—
Você gosta de romance?
—
Anh...
Foi
quando se deu conta do livro que estava em suas mãos. Um romance adolescente,
ou não, como ela viria a lhe dizer depois, era um conto de fadas moderno, do
tipo que as histórias que conhecemos podem se encaixar no nosso cotidiano, na
vida real. Agora ele acreditava que as histórias não eram só histórias, que
elas existiam por uma razão.
—
A esperança é o que move estas histórias, é o que faz as pessoas lerem o que
aparentemente não passa de uma mera fantasia. Sempre há uma escolha, uma opção.
Podemos nos conformar com a nossa realidade ou podemos tentar mudá-la para algo
melhor.
—
Nem nos apresentamos. – disse ele após uma longa pausa. – O meu nome é... (aqui
eu quero deixar em reticências, pois como se trata de uma história real,
prefiro que seus nomes continuem no anonimato, até porque não memorizei seus
rostos e não sei se os vi depois disso).
—
Acredito que você venha sempre aqui, por que nunca te vi antes? – perguntou
ela.
—
Nunca houve oportunidade, ou nunca observamos um ao outro antes.
—
É como se o destino tivesse nos unido exatamente hoje, tinha que ser agora,
nesse momento, pode acreditar nisso?
—
Não até uns minutos atrás. Agora eu entendo o que dizem os poetas e escritores.
Isso é tão estranho.
Aquela
foi uma longa tarde, mas passou muito rápido para aqueles dois jovens que
acabaram de se conhecer. Uma vida inteira ainda não seria o bastante para tudo
o que eles viriam a conhecer juntos, a vivenciar e aprender juntos. Como algo
tão intenso viria a surgir tão de repente?
Eles
não trocaram telefones, nem combinaram de se encontrar outra vez, mas sempre
esperavam um pelo outro, sempre na expectativa da hora em que iriam se
encontrar outra vez, e sempre se encontravam entre as prateleiras da livraria,
sempre recebidos por sorrisos e abraços um do outro, e sempre se despediam com
um “até logo!”. Desde aquele dia em que seus dedos se encontraram ao tocar em
um livro que ele ansiava por tocá-la outra vez, sentir outra vez o toque dos
seus dedos e suas mãos nas dele. Sonhava com o momento em que estariam tão
próximos a ponto de sentirem o calor da pele um do outro, e principalmente,
queria muito beijá-la e falar abertamente o que sentia enquanto a abraçaria.
Ele
não estava nem um pouco acostumado com tal sensação. Já era um adulto, e
durante toda a sua adolescência nunca se sentira de tal maneira por nenhuma
garota. Ela o fazia se sentir como um garotinho apaixonado, que ficava sem
jeito diante da garota dos seus sonhos. E talvez ela nem soubesse disso, ou
também poderia se sentir assim sem que ele soubesse, talvez estivesse pensando
nele nesse momento, deitada em sua cama sem conseguir dormir, apenas contando
as horas ou relembrando o dia em que passaram juntos, assim como ele estava
fazendo neste momento.
O
dia em que trocaram telefones foi o mesmo dia em que se beijaram pela primeira
vez, em uma tarde de chuva.
Desde a primeira vez que se viram, suas tardes
vêm sendo preenchidas com longas conversas sobre livros e cultura em geral,
sempre nos corredores e prateleiras da livraria. Houve um dia em que o tempo se
fechou, o céu ficou repleto de nuvens cinzentas e carregadas, anunciando uma
chuva iminente que não tardaria a vir. A livraria estava calma e silenciosa,
são poucas as pessoas que se aventuram a sair de casa em tempo chuvoso, mas lá
estava ele com um enorme guarda-chuva. No fundo, nem iria naquele dia, mas
fizera uma encomenda que deveria chegar naquele dia, e não havia nada melhor
para se fazer em casa de qualquer maneira. Ele esperou por mais de uma hora, e
quando já estava de saída, viu um vulto todo molhado na entrada da loja se
aproximar dele aos poucos. Ela acabara de chegar diante dele toda molhada e
trêmula.
—
Meu guarda-chuva foi levado pela ventania. Era um guarda-chuva bem pequeno, eu
não achava que fosse realmente chover tanto e por isso também não trouxe um
casaco. O sol brilhava em um céu azul perto da minha casa, diferente daqui. –
falou ela nervosa e envergonhada por estar diante dele toda molhada.
—
Espera, respira e veste aqui. – ele tirou a sua jaqueta e pôs nos ombros dela
para aquecê-la. – vamos tomar um café.
Eles
se sentaram e pediram um café. Ela comentou:
—
Hoje o tempo não está nada bom. Será que vai melhorar?
—
Já está melhorando.
—
Mas está chovendo torrencialmente.
—
Ah, é que aqui dentro nem dá pra perceber. Desculpe.
Ela
começou a rir. Ele ficou sem entender qual era a graça, até que ela disse:
—
Não precisa se desculpar por causa disso. Você é fofo, engraçado, mas no bom
sentido, não se ofenda. Adoro quando você diz coisas assim, como se estivesse
sempre nervoso quando está comigo.
Ele
pensou em responder, mas os cafés chegaram nesse exato momento. Ficaram em
silêncio enquanto tomavam seus cafés, depois passearam pela loja até o tempo
melhorar realmente.
Enquanto desciam a escada rolante, ela fez
algo que o deixou surpreso: segurou em sua mão. Quando estavam esperado o
transporte, a chuva recomeçou. Ele abriu seu guarda-chuva e ambos ficaram
debaixo, tão próximos que quase se abraçavam, tentando afastar o frio com o
calor de seus corpos. Seus olhares se encontraram fixamente pelo que pareceram
minutos ou horas. Foi quando ele pensou “é agora ou nunca”.
Largou
o guarda-chuva próximo a um poste, apertou suas mãos nas dela e, olhando
fixamente para ela, segurou seu rosto e a beijou.
Foi
o beijo mais incrível e apaixonante de todos. Tinha o sabor da chuva e o cheiro
de perfume, misturados com o gosto de café e paixão. O desejo contido de ambos
transformou o beijo em algo leve, gostoso e cheio de esperanças no futuro. O
telefone estava com cada um desde a hora do café, e para sempre ficaria
guardado, junto com a memória deste beijo.
Fazia
três semanas desde a primeira vez em que se viram, e ainda não tiveram nenhum
encontro oficial, nem mesmo o namoro havia sido oficializado ainda. Tudo o que
eles tinham eram as intermináveis horas passadas na livraria. Um precisava
estar na vida do outro. Era só uma questão de tempo, ou de fazer acontecer o
momento. Eles só tinham três semanas do primeiro olhar ao primeiro beijo, e
isso já era muito tempo para tão pouca coisa. Foi quando ele decidiu então
formalizar um pedido de namoro.
Todos
os dias eles se encontravam na livraria, foi o lugar em que eles se viram pela
primeira vez. Aquela livraria havia se tornado um lugar especial para os dois.
Foi onde tudo aconteceu, onde tudo começou. Portanto, seria lá que tudo
realmente começaria de verdade, até o fim, se é que houvesse um.
O
dia escolhido foi um domingo, a loja normalmente está lotada neste dia, mas ele
estava disposto a correr este risco. Já havia combinado com ela na noite
anterior, após horas ao telefone, de que este domingo seria um dia especial,
embora ele apenas tivesse dito que eles fariam o que sempre fazem todos os dias.
Ele queria deixá-la ansiosa tanto quanto ele estaria, mas sem lhe contar
absolutamente nada. Chegaria cedo e esperaria.
Ele
escreveu uma dedicatória no livro que lhe daria de presente quando ela chegasse.
Além disso, havia comprado um enorme buquê de rosas vermelhas, as preferidas
dela e as perfeitas para a ocasião. Rosas vermelhas eram perfeitas para um
pedido de namoro.
A
entrada da loja era a área mais movimentada, pois era onde se localizava o
setor infantil, que estava repleto de crianças que estavam assistindo a uma
contação de histórias. As pessoas estavam olhando para ele. O garoto com o
buquê de rosas vermelhas. Algumas meninas sussurravam “quem será a sortuda?”
“se ela não vier, eu fico com ele” “eu queria só o gatinho, não vou precisar
das flores” “como eu queria um desses pra mim...” Ele só pensava consigo mesmo:
“em breve chegará um pra vocês. Eu já tenho uma escolhida.” Mas a verdade é que
já estava esperando há um bom tempo, o que pôs em dúvida se ela realmente
apareceria ou se ele voltaria para casa só esperando por mais um dia. Já estava
anoitecendo quando ele resolveu ligar. Não queria mais esperar, ou receberia
uma resposta dela ou voltaria pra casa o quanto antes. Sempre fora tímido o bastante
para não se sujeitar a fazer qualquer coisa em público.
No
terceiro toque, ela tendeu:
—
Estou a caminho. Talvez demore um pouco, tem um engarrafamento enorme aqui...
—
Eu esperarei.
Era
o suficiente. Dentre mais alguns minutos ela estaria lá. Só mais um pouco e
tudo começaria a partir dali. Sentou e esperou. Depois resolveu esperar de pé
aonde ela chegaria, diante da entrada da loja.
“De
onde eu estava, no caixa, eu pude ver tudo isso. Eu não acreditava nisso, só em
parte, eu acreditava no amor tanto quanto na fada-do-dente. Sempre detestei
essa de deixar um dente debaixo do travesseiro, assim como sempre detestei ter
alguém ao meu lado dizendo coisas bonitas e declarando seus sentimentos. Eu me
lembro de que, neste dia, a minha gestora estava acompanhando o trabalho dos
caixas de perto. Ela se aproximou e disse pra mim e pro seu radinho:
—
Tem um príncipe encantado aqui na loja hoje.
Sorrindo,
eu respondi:
—
Eu sei. Ei vi. Um dia vai aparecer um pra mim também. – e olhando para as
minhas colegas, disse: - agora eu vou esperar um desses. Achava que não
existiam, mas ele não deve ser o último da face da Terra. Deve ter sobrado um
pra mim.
Havia
pessoas descrentes com relação a isso, até me disseram coisas do tipo: “vai
esperar sentada” ou pior: “vai morrer solteira!”. Não sei quanto a mim, mas
depois de meia hora, todos acompanharam de perto e até bateram palmas para o
feliz casal. Quando eu vi de longe, jurei se tratar de um pedido de casamento
ou algo assim, mas fiquei surpresa. Tudo isso era só um pedido de namoro. Foi a
coisa mais linda que eu testemunhei de que eu me lembre. Já vi muitas coisas
bonitas, mas não pessoalmente, não de verdade, não tão perto de mim. Esse
casal, pra mim, é um verdadeiro exemplo do dia dos namorados, do porque de tal
data existir. Há mais do que uma simples troca de presentes no dia dos
namorados, há algo maior e muitas vezes inexplicável no sentido e significado
da expressão “namorados”, algo que só os grandes poetas ou os grandes
apaixonados sabem explicar. Eu não sei dizer, afinal sou só uma amadora, mas
espero que todos saibam um dia, inclusive eu.”
Feliz
dia dos namorados!