quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Em Todo Final Há Um Recomeço

   Já faz um bom tempo que eu não venho ao blog para escrever algo, e como é o último dia do ano, não poderia adiar mais o que eu tenho a dizer. Na verdade, como tenho muito a dizer deste ano que passou porque eu passei por muita coisa, resolvi fazer diferente. Para quem me conhece de verdade e estava ao meu lado quando eu passei por todas as coisas (não me entendam mal, eu não estou reclamando deste ano, só estou dizendo que foi um ano muito longo, deu para acontecer muitas coisas mesmo!) boas e ruins, essas pessoas sabem que eu sempre preferi escrever do que falar abertamente - um dos motivos de eu ter um diário todos os anos e ter iniciado este blog.
   Este foi um ano bastante significativo, um ano em que eu realmente tive muito a dizer para muitas pessoas. Para algumas eu disse, mas para outras o tempo simplesmente não deixou que eu falasse. Foi o ano em que eu tomei grandes decisões, ganhei amigos com a mesma facilidade com que perdi tantos outros. Tive um ano razoável na faculdade e pior ainda no trabalho. Foi um ótimo ano para nós nerds. Me aproximei mais da minha família, mas acima de tudo, foi o ano em que, apesar de eu ainda não ter me formado, não tenho um namorado, uma casa, carro, continuo morando com meus pais, nunca viajei e blábláblá, esse ano foi o ano em que eu me senti mais adulta do que nunca.
   Mas como assim? Se eu não consegui nada de concreto, como posso me considerar mais adulta? Não sei quanto a vocês, mas a minha definição de ser adulta não é ter um conjunto de bens, dinheiro, muita experiência de vida, casamento, filhos, etc. Minha definição de ser adulta na verdade é enfrentar os obstáculos com sabedoria e determinação e principalmente tomar grandes decisões por conta própria, pensando inclusive nas consequências destas decisões. Isso sim, para mim, é ser adulta: ser responsável por seus próprios atos. Tive que dizer adeus a alguns amigos, amigos que eu considerava especiais para mim, pessoas em que eu confiava, pessoas que eu achava que não me fariam mal, mas como elas me feriram bastante, tive que me afastar. É muito mais fácil se afastar de um estranho do que de um amigo. Por mais que você se afaste, a lembrança sempre estará lá. O sofrimento causado por um ex-amigo é algo parecido com o sofrimento causado por um ex-namorado, principalmente quando você se apega a estas pessoas, então sim, foi bastante difícil eu me afastar destas pessoas, mas hoje em dia tudo aquilo é apenas uma mancha no passado, uma pequena rachadura no tempo.
   Outra coisa que me aconteceu foi eu ter saído do meu emprego, um lugar em que eu amava trabalhar. O verdadeiro motivo é pessoal, não é adequado eu contar aqui no blog, mas sim, foi uma das decisões mais difíceis que eu tomei em toda a minha a vida, não só a decisão mais difícil do ano. Tive o período de aviso prévio, ou seja, eu tive um mês para me despedir, mas por mais que todos tenham me cumprimentado, me felicitado, resolvi escrever uma "carta de despedida", mas esta eu também - por motivos óbvios - eu não poderei mostrar. Apenas uma pessoa leu toda a carta, um colega de trabalho, ou o mais próximo que eu tenho de um amigo. Tinha seis laudas e ele elogiou o tom poético da escrita cheia de metáforas. Não me arrependi de minha decisão nem por um momento, eu finalmente senti que chegou o momento. Eu, apenas eu, tinha que fazer isso, e tinha que sair antes do ano acabar. Saí no dia 24 de novembro e não comuniquei no facebook, não publiquei a tal da carta e nem mesmo avisei no departamento de comunicação. Me despedi apenas de quem estava próximo de mim naquele momento, do resto eu saí em silêncio. Não por vergonha, mas porque não sabia o que dizer.
   Alguns dias antes, eu estava de folga e mudei os canais até parar em um filme que começou com uma frase que exemplifica o que eu estava tentando dizer. Ao invés de escrever um texto enorme para explicar como eu me sinto, prefiro fazer esta citação para explicar meus sentimentos com relação a este ano e o próximo. Como despedida eu usarei outro filme como citação, o discurso de Gwen Stacy em "O Espetacular Homem-Aranha 2". Já o primeiro texto será do filme "Sucker Punch - Mundo Surreal". Leiam e reflitam!
  

"“Todo mundo tem um anjo, um guardião que cuida de nós.
Não sabemos a forma que toma
Um dia um velho no outro uma menininha.
Mas não deixe que as aparências enganem você, eles podem ser ferozes como um dragão, ainda assim não estão aqui para lutar nossas batalhas, estão aqui para nos inspirar lembrando que somos fortes, todos nós temos poderes sobre o mundo que criamos...”

“... Nós podemos negar que nossos anjos existam ou nos convencer de que não são reais, mas eles aparecem de qualquer jeito.
Nos lugares mais estranhos e nas horas mais estranhas.
Eles podem falar de qualquer jeito que se imagina, até espantar demônios se for preciso, eles nos instigam e nos desafiam a lutar...”


“... Finalmente a questão, o mistério de quem protagoniza a história;
Quem abre a cortina?
Quem escolhe os nossos passos na dança?
Quem nos leva à loucura?
Quem nos fustiga com o chicote e nos coroa com a vitória quando sobrevivemos ao impossível?
Quem faz todas essas coisas, quem honra aqueles que amam com a vida que leva? Quem manda monstros para nos matar e ao mesmo tempo diz que não vamos morrer?
Quem nos ensina a verdade e a rir da mentira?
Quem decide porque vivemos e porque morremos para defender quem amamos? Quem nos acorrenta e quem guarda a chave que pode nos libertar?
É você!
Você tem todas as armas de que precisa agora lute!”



Este foi o meu resumo do ano de 2015. agora a minha despedida nas palavras de Gwen Stacy:


 "Eu sei que todos pensam que somos imortais. Era pra ser assim. Estamos nos formando. Mas como nossos 4 anos de colegial, o que torna a vida valiosa é não durar pra sempre. O que a torna preciosa é que ela termina. Sei disso agora mais que nunca. Hoje é especial para nos lembrar que tempo é sorte. Então não desperdice tempo vivendo a vida de outro. Faça a sua valer alguma coisa. Lute pelo o que se importa. Seja o que for. Porque mesmo que tenhamos dúvidas, não tem jeito melhor de viver."
     "É fácil se sentir esperançoso em um lindo dia como hoje, mas haverá dias sombrios a nossa frente. Dias em que você se sentirá sozinho, e é nesses dias que precisamos de esperança. Não importa o quão ruim fique ou o quão perdido você se sente, me prometa que você terá esperanças. Mantenha-a viva. Temos que ser maiores do que o que sofremos. Meu desejo para você é que se torne a esperança. As pessoas precisam disso. E mesmo se falharmos não há forma melhor de se viver. Como vemos aqui hoje todas as pessoas que nos ajudam a formar quem somos. Eu sei que parece que estamos dizendo adeus, mas carregaremos cada um de vocês em todas as coisas que faremos e para nos lembrarmos de quem somos e de quem deveríamos ser. Passei ótimos anos com vocês, eu vou sentir muito a falta de todos." 
 
 
Por coincidência, também passei quatro anos na Livraria Cultura, o que equivaleu ao meu "colegial" a que a Gwen se refere. Se eu tivesse tido a chance, era isso que eu teria dito a todos os meus colegas que ficaram. Dias melhores virão, eu sei disso. Não estou nos dias melhores, mas tenho esperança, eu sei que eles realmente virão.
 
Até o próximo ano!
 
 
 


  

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Resenha: "A Herdeira"

autora - Kiera Cass
editora - Seguinte
ano - 2015
ISBN - 8565765652
preço sugerido - R$29,90
volume 04 da série "A Seleção"

Agora posso dizer que finalmente terminei de ler este livro. Enquanto todas as outras garotas leram assim que lançou, eu procrastinei com ele, sempre colocando outros livros na frente. Só li agora porque como estou de saída do meu trabalho, não posso mais pegar livros emprestados. Como estava sem opção, resolvi pegar da minha estante todos os livros que eu parei pela metade, e como este eu estava perto do fim, resolvi voltar para ele. Eu não parei porque ele era ruim, muito pelo contrário, parei por conta da semana de provas e outras coisas que ocuparam a minha mente de um jeito que eu não conseguia me concentrar em ler nada. De fato, não me arrependi nenhum pouco por ter voltado justamente para ele, sem dúvida um dos melhores livros do ano, Kiera Cass nos surpreende como sempre.
Minha intenção aqui não é dar spoilers, mas quem leu os três volumes anteriores já sabe que esta história é focada na herdeira de Maxon e America, a filha mais velha (de um total de quatro!) do casal. De certa forma não é nem considerado spoiler, mas minha irmã terminou o primeiro livro a duras penas e achava que o Maxon escolheria outra garota e que America era detestável e fazia tanto Aspen quanto Maxon sofrerem nas mãos dela, daí ela ficou com ódio quando eu disse que a Eadlyn era filha de America e Maxon. Fazer o quê, não?
Eadlyn e gêmea de Ahren por sete minutos, portanto sendo a mais velha, se torna a primeira herdeira ao trono de Ilhéia. Além de Eadlyn e Ahren, também há Kaden e Osten Schreave. No palácio também moram Madame Lucy (ex-criada de America, que se tornou grande amiga da rainha America), Aspen Leger (marido de madame Lucy e ex-namorado de America), madame Marlee (uma ex-selecionada que também se tornou amiga de America - ela foi expulsa da seleção por ter um relacionamento com o soldado Woodwork), o soldado Woodwork, e os dois filhos do casal, Josie e Kile Woodwork. Por quê eu estou apresentando os moradores do palácio? Bom, digamos que a seleção não foi extinta após a escolha de Maxon. Medidas extremas pedem soluções extremas, e o rei convoca uma nova seleção para que Eadlyn escolha um futuro marido, ou seja, ainda no começo do livro a palácio será ocupado por mais 35 rapazes dos mais diversos lugares do país, que competirão o coração da princesa. Se você pensa que vai ser uma tarefa fácil, está enganado. Mesmo que toda garota adorasse estar na pele dela, ter tantos rapazes a seu dispor assim pode ser um pouco cansativo, porque verdade seja dita, quando há dois garotos tentando conquistar uma garota já é complicado, agora imagine 35! E a pior parte não é nem tanto os garotos, mas a própria princesa dificulta muito as coisas no começo, pois ela é totalmente contra a ideia da seleção.
Maxon e America propõem a Eadlyn uma seleção para distrair o público, pois várias províncias do país estão fazendo manifestações contra o governo. Enquanto Maxon tenta arrumar uma solução para conter os rebeldes e manter a paz que ele tanto lutou para conseguir, usa a filha para que o público possa assistir ao vivo a princesa encontrar o amor verdadeiro do mesmo jeito que ele conseguiu o dele. Eadlyn concorda a contragosto e propõe um prazo de três meses para a seleção acabar, ela encontrando ou não o parceiro ideal.
Falando assim parece que eles são pais desnaturados, que isso é algo horrível usar a filha como isca para que o país inteiro desnude sua privacidade e ter inúmeros fotógrafos e jornalistas acompanhando todos os seus passos e julgando-a. Parece que sim, mas ambos passaram por isso antes dela e ambos vivem felizes e esbanjando amor, além do fato de toda a população ter aprovado a escolha de Maxon, America sempre foi uma ótima negociadora e estrategista, além de ser muito simpática e cativante com o público. Eadlyn pode ser uma menina muito inteligente, aplicada, bastante durona e ótima estrategista, mas o público não simpatiza com ela, dentre os quatro irmãos, ela é a mais durona, com ar soberbo e severa, se acha a menina mais poderosa de todas, e isso vai além de mera autoconfiança, passa para arrogância. De fato, no primeiro dia dos rapazes, de uma única vez ela elimina 11 candidatos, muitos deles apenas com o olhar. Claro que a mídia ficou em cima e ela foi duramente criticada pela população por tal atitude.
Com o tempo, a atitude de Eadlyn muda aos poucos. Para ela, casar era uma ideia repudiante, pois ela sempre defendeu a ideia de que não precisa de um homem ao seu lado para governar o país, e que ter um ao seu lado só lhe seria um estorvo. Ela sempre teve opinião forte quanto a suas escolhas, nunca deixou ninguém se aproveitar nem tirar vantagem de nada que lhe fosse seu. Ela adora os irmãos e tem um bom relacionamento com madame Lucy e madame Marlee, mas não suporta Josie, pois sempre a achou muito invejosa e sempre rouba suas tiaras, e tem a mesma opinião sobre Kile, o garoto mais chato e insuportável de todos, até que o pior acontece: Kile foi sorteado para ser um dos 35 selecionados! Imagino que a escolha de Eadlyn seja no próximo livro, A Coroa, a ser lançado em maio (meu aniversário), mas mesmo assim eu já tenho o meu preferido, eu sempre vou na escolha mais óbvia e o Kile é incrível, um dos melhores garotos que eu já conheci. Caso ela escolha outro rapaz, eu vou até lá e o pedirei em casamento eu mesma. #prontofalei.
Por incrível que pareça, o que eu mais gostei no livro (além do Kile, claro!) foi a personalidade da princesa. Também adoro o irmão gêmeo dela, Ahren, me fez ter vontade de ter um irmão. De início ela é realmente insuportável, mas o tempo todo eu pensava que sabia como era estar no lugar dela, pois sempre fomos fechadas, confusas, sempre pensando em deveres e obrigações antes de qualquer outra coisa, temos receio de conhecer novas pessoas, seja por medo de nos machucar, seja por precaução, seja por incapacidade de amar, por ter um coração fechado por tanto tempo que não sabe mais como agir diante de outras pessoas. Para nós, relações interpessoais são bastante complicadas. Somente pessoas mais chegadas ou pessoas de casa nos conhecem de verdade, pois é quando ninguém está olhando que nos sentimos à vontade para sermos quem somos realmente. A ideia de invasão de privacidade me enoja, assim como para Eadlyn, as pessoas julgam pelo que veem, não pelo que realmente sabem.
E realmente Eadlyn trabalha muito bem com sua armadura de esconder suas emoções. Por mais que os garotos se esforcem, ela não deixa (pelo menos no começo) que eles se aproximem emocionalmente. Depois de um tempo a coisa muda totalmente de figura, até o momento em que ela tem vários favoritos no final do livro.
Com relação aos rapazes, muitos são simpáticos, outros são sem graça, outros conquistam você na hora, outros são irritantes, e há também aqueles que dão medo de ficar a sós com eles. Neste caso, os jornalistas e fotógrafos observando é uma ajuda bem-vinda, pois alguns deles acabam se mostrando perigosos. Para garotas tão fortes e independentes como Eadlyn, a sensação é realmente terrível quando algo dessas proporções acontece, quando todo o seu poder e influência não é o suficiente para conter todo o mal, quando você não consegue se proteger contra tudo, quando você precisa admitir que realmente precisa que alguém a defenda. Mesmo ela sendo uma princesa cercada por inúmeras pessoas, com olhos em todos os lugares, ela tem que aprender da pior maneira que nem sempre podemos com tudo. No restante, os outros garotos que sobram são adoráveis, cada um tem um talento, uma habilidade especial, que aos poucos vão conquistando espaço no coração da princesa e tornando cada vez mais difícil para a princesa (e para todos os leitores) tomar uma decisão no final.
Infelizmente para nós leitores, teremos que esperar até o próximo livro para ver qual o escolhido pela princesa, que vai ser apenas em maio. Daqui até lá, teremos nos corroído de ansiedade.
Até a próxima!      

 


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Resenha: João e Maria


autor/adaptador - Neil Gaiman
ilustrador - Lorenzo Mattotti
editora - Intrínseca
assunto - fantasia/conto de fadas/juvenil
ISBN - 8580577764
preço sugerido - R$34,90

Neil Gaiman sempre foi um grande mestre em contar histórias e sempre transitou muito bem entre gêneros, desde quadrinhos, romances adultos e juvenis, roteiros de filmes e séries e até mesmo livros infantis. Sua maior característica é explorar nossos medos e abordá-los de forma que nos pareçam coisas simples de suportar, nos dando esperança em meio a um caos assustador. Seus personagens infantis sempre foram muito corajosos com relação a enfrentar aquilo que os adultos normalmente encaram como impensável para crianças, caso de Coraline e do garoto sem nome de "O Oceano No Fim Do Caminho". Aqui ele consegue transpor a visão assustadora de abandono abordada no famoso conto dos irmãos Grimm, e com as ilustrações de Lorenzo Mattotti, o livro ganhou uma atmosfera ainda mais sombria, o que poderá assustar os pequenos, mas agradar aos jovens a partir dos 7 anos. Nesta sua versão, ele nos dá uma breve introdução de como era o período em que se passa a história, em que a guerra trouxe fome e devastação para a Europa, obrigando muitos pais a abandonarem seus filhos por não terem o que comer e preferem a morte a verem seus filhos vivendo com fome.
Foi essa a justificativa que a mãe das crianças utilizou para abandoná-las e também a justificativa da bruxa, que nesta versão da história é apenas uma velha senhora que anseia por um pouco de carne. O que também foi explicado na introdução é que, por falta de carne, parte da população adquiriu hábitos canibais para não morrer de fome, o que foi o caso da bruxa. Percebe-se que ela tem momentos de lucidez, em que trata Maria com um pouco de gentileza, mas logo após volta a humilhá-la como sempre. João ficava amarrado no porão da casa de doces e era alimentado com frequência pela bruxa para mantê-lo gordo o bastante para o abate.
Com o tempo, as crianças vão mostrando esperteza e coragem para enfrentarem a situação. Aqui, ambas as crianças têm seus momentos de destaque. Quando os pais tramam de levar as crianças para a floresta e "perdê-las" lá, é João quem descobre o plano dos pais ao ouvir seus sussurros no meio da madrugada e trama o caminho de volta com pedaços de pão. Na primeira vez eles conseguem voltar, para alegria do pai e desapontamento da mãe. Na segunda vez em que os pais traçam o plano, um passarinho come os farelos de pão, o que deixa eles perdidos no meio da floresta. Neste caso o destaque de esperteza foi de João. Já para fugirem da bruxa, quem tem a ideia de por a bruxa no fogo no lugar de João é Maria. A bruxa pede para que ela acenda o fogo e verifique até que esteja quente o bastante e Maria finge que não sabe ver o fogo. Então quando a bruxa vai fazer uma demonstração de ver como está o fogo, Maria aproveita a oportunidade e a empurra no fogo. Depois de verificar que ela está realmente morta, Maria pega as chaves e liberta o irmão, não sem antes roubar todo o ouro e outras fortunas que a bruxa tinha guardado de suas vítimas anteriores.
Ao voltarem pra casa, levaram todas as riquezas da bruxa, e encontraram apenas o pai a espera deles. A mãe das crianças já estava morta pela fome. Com todo o ouro, os três viveram uma vida longa e feliz.
A adaptação de Neil Gaiman tornou a história ora assustadora, ora encantadora, como só ele sabe fazer. Enriqueceu mais ainda personagens que já eram clássicos em nossas memórias e os reviveu de forma impressionante. Aguardo ansiosa para ler a sua próxima adaptação "A Bela e a Adormecida".


domingo, 1 de novembro de 2015

Resenha: Jackaby

Jackaby

autor - William Ritter
editora - Única
idioma - português
edição - 1ª
ano - 2015
ISBN - 9788567028668
 
A história se passa em Nova Iorque, no ano de 1892. A jovem Abigail Hook acaba de chegar de uma viagem a Londres e está totalmente sozinha, sem emprego e sem lugar para dormir, até que o destino a leva a entrar em um bar e lá ela encontra o misterioso R. F. Jackaby. A partir deste momento, a vida dos dois muda por completo, e não é romanticamente.
Abigail é uma garota a frente de seu tempo, saiu da boa vida em Londres atrás de aventuras. Foi a primeira garota da família a tentar entrar em uma faculdade enquanto a mãe se preocupava com o bem-estar social da filha. Tentou ser uma arqueóloga como o pai, mas ao descobrir que garotas só viam as aventuras em teoria, resolveu pegar o restante do dinheiro da faculdade e embarcar de navio pelo mundo, mas quando os marinheiros descobriram uma mulher entre os tripulantes, ela teve que fazer uma "parada forçada" em Nova Iorque. Assim que desceu do barco, foi até o bar atrás de emprego e lugar para dormir. Não conseguiu, claro. Mas todos falavam deste homem estranho na cidade, um homem que consegue enxergar o que os outros não conseguem ver. Um homem assim poderia proporcionar grandes aventuras a Abigail, e por coincidência ele estava atrás de uma assistente.
Jackaby trabalha como consultor da polícia, a contragosto do inspetor, que não gosta da forma como Jackaby trabalha e dos métodos que ele utiliza para suas investigações. Jackaby tem um pé no sobrenatural na hora de solucionar os casos, que geralmente são reais. Sua casa tem como hóspede a antiga dona, o fantasma de uma garota simpática chamada Jenny. Jackaby fora contratado para "exorcizar" a casa, mas viu que a jovem não fazia mal a ninguém, apenas não queria deixar a casa que lhe fora herdada, então ele se ofereceu para comprá-la e desde então os dois vivem juntos pacificamente na mansão. Além dos dois, mora na casa o antigo assistente de Jackaby que fora transformado em pato por um feitiço.
Antes de ele aceitar Abigail como assistente, Jackaby é bastante relutante com relação a segurança da garota. Abigail literalmente teve que provar que não era como as outras garotas daquela época, que poderia aguentar o que o trabalho como assistente de um detetive poderia proporcionar, além das tarefas complicadas, ela ainda teve que lidar com os olhares das pessoas que criticavam o fato de uma garota trabalhar para um detetive maluco ao invés de procurar um marido. Abigail Hook estava caçando um misterioso assassino ao invés de um misterioso marido, e isso era uma aventura muito maior e melhor.
A fantasma Jenny acaba se tornando a melhor amiga de Abigail, e Jackaby acaba aceitando de bom grado a companhia e a perspicácia de Abigail. Juntos eles se tornam um ótima dupla na hora de desvendar o mistério. as duas cabeças funcionam melhor juntas. Jackaby tem sempre a cabeça nas nuvens, sempre atento as coisas do outro mundo, enquanto Abigail presta mais atenção no óbvio, aquilo que geralmente está à nossa frente e que Jackaby não consegue perceber num primeiro olhar.
Com relação ao comentário na capa, faz todo o sentido do mundo. Eu mesma peguei o livro para ler para fugir de um romance e estava atrás de uma aventura e não sabia por onde começar. Daí me deparo com um livro que tem as referências: "Para os fãs de Sherlock e Doctor Who". Amo as duas séries, e realmente há semelhanças que são bem óbvias: o jeito peculiar de Jackaby de investigar, o olhar para o sobrenatural, o estranho, extraterrestres ou coisas assim e a personalidade meio maluca típica do Doctor, o fato de estar sempre acompanhado de uma garota que seja tão esperta como ele, e como ele sempre se afeiçoa a suas "companions" e seus amigos estranhos, como uma fantasma e um pato, dentre outras semelhanças com os dois icônicos que com o tempo, conforme a leitura vai avançando, você vai percebendo.
Enfim, espero que gostem, porque eu adorei o livro!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Resenha: A Melhor Coisa que Nunca Aconteceu na Minha Vida

 
autores - Laura Tait & Jimmy Rice
editora - Quinta Essência
número de páginas - 356
ano - 2015
edição - 1
ISBN - 8544102301
 
   Para começar, esse livro foi um daqueles que eu peguei totalmente por acaso. Como eu trabalho em uma livraria, tenho acesso a todos os lançamentos, e vi esse livro. Virei para ver a sinopse e de cara me despertou a atenção porque eu tenho uma queda por romances entre amigos. Por coincidência, eu li a primeira página justamente por causa disso: eu conheci um garoto, nos tornamos amigos e eu estava naquele dilema do "falo ou não falo o que eu sinto" e a primeira página já começa com a garota andando até a casa do rapaz elaborando em sua cabeça a melhor maneira de contar a ele. Se ela contou ou não? Aí você vai ter que ler para saber.
   Dentre as várias coisas que fizeram eu me apaixonar por este livro é justamente a história. Apesar de existirem vários livros com a mesma temática por aí (vide UM DIA e SIMPLESMENTE ACONTECE, que também são meus preferidos, dentre outros) este é escrito por dois autores que são grandes amigos. Se foi baseado em fatos reais da vida deles eu não sei, mas a história vai se revezando, ora escrito pela Laura, ora pelo Jimmy, o que ajuda a dar maior identificação do leitor com a história. Também tem recapitulações, começando a história em 1999 e terminando em 2011 e as recapitulações não são na ordem em que acontecem os fatos. Embora os personagens não sejam tão bem desenvolvidos, eles tem certa profundidade, nuances que vão se revelando aos poucos.
   Geralmente, nas histórias em que amigos se apaixonam, quem descobre o sentimento primeiro é a mulher e ela tenta chamar a atenção do cara até que ele se dá conta muito tempo depois, as vezes até tarde demais. No caso desta história, o garoto nutria uma paixão secreta pela menina desde que ela se mudou para o colégio dele, aos 6 anos de idade. Desde o começo eles sempre foram amigos e ele sempre teve esse sentimento a mais por ela, mas ela era uma menina que viajava muito, conhecia muitas pessoas, interagia com todas as meninas da escola, estava entre as populares e de acordo com ele, garotos melhores que ele viviam se aproximando dela e portanto ele não tinha a menor chance.   
   Mesmo ele sendo tímido e desajeitado, eles eram melhores amigos, ela sempre gostou muito dele, mas na adolescência ela não o via daquela maneira, ou até via mas não sabia o que era aquela aflição que dá no nosso peito, aquele pulo que o nosso estômago dá sempre que ele se aproxima. Só sabe quem já sentiu, não é uma coisa que dá para explicar.
   A sinopse da história é basicamente essa: eles passaram a infância e adolescência juntos. Alex sempre quis ser professor mas não era muito pé no chão, ele idealizava a profissão assim como idealizava Holly. Já Holly sempre teve o sonho de percorrer o mundo e viver grandes aventuras em suas viagens. A ideia era planejar o futuro logo após a formatura. Alex queria se declarar para Holly antes que ela decidisse viajar e esquecer o amigo em suas aventuras. Holly tinha um namorado e decidiu ir a uma festa antes de se formar, como uma comemoração. O capítulo 01 começa aí, mas devido a uma contramão do destino e um erro de comunicação e conselhos errados dos amigos, os dois acabam seguindo em caminhos opostos após a festa e só se encontram cerca de dez anos depois.
   Dez anos depois, o destino resolveu agir com essas estranhas coincidências e uniu-os novamente. Qualquer um que acredite em destino vai pensar que essa é a chance perfeita, que eles seriam burros se não aproveitassem a oportunidade, mas convenhamos, em dez anos muita coisa pode acontecer, tudo pode mudar. Primeiro: será que eles conseguiram realizar tudo o que eles queriam na juventude? Será que eles ainda tem os mesmos sonhos, os mesmos sentimentos um pelo outro?
   Primeiro: não sei se com todo mundo é assim, mas comigo (e com Holly e Alex) por mais que o sentimento ainda exista, o ideal é verificar o terreno, por assim dizer, e só então ver se é seguro se declarar, pois com um estranho não há nada a perder, mas um amigo... As chances de as coisas ficarem estranhas entre você e seu melhor amigo são enormes, se ele não retribuir os sentimentos, a conversa vai ficar na cabeça por meses ou até anos e ele vai se sentir culpado até que consiga se afastar de vez e antes disso ele vai ficar estranho com você porque não vai saber o que dizer ou o que pensar. Sempre vai existir aquele fantasma, aquela preocupação se ele/ela está mesmo bem em ser apenas amigo/a. Tudo o que for dito entre vocês poderá ser interpretado com outro sentido. Para aqueles que se importam com uma amizade, o risco é grande e você tem muito a perder, aqui não vale aquela história de "o não você já tem, se não der certo, você não perdeu nada porque tudo estará do mesmo jeito". Aqui fala alguém com experiência no assunto: QUEM LHE DISSER ISSO É UM IDIOTA! Não só você sai perdendo, mas ambos perdem com isso. É um risco, é. Você só vai saber se ele sente o mesmo se você se declarar, sim. Mas só faça isso se tiver certeza, ou utilize outros meios, outras pessoas, tente parecer que você não tem nada a ver com isso, peça a ajuda a amigos em comum, crie uma situação em que você veja os sinais, ou pelo menos fale de maneira sutil, antes de falar tente demonstrar com exemplos (seus ou de outros casais) que se algo assim acontecesse vocês ficariam bem.
   Embora eu tenha citado exemplos e conselhos meus, o mesmo aconteceu com Holly e Alex. Holly não viveu a vida glamorosa, viajando ao redor do mundo. Ela foi para Londres trabalhar como assistente em uma empresa de marketing e tem um caso com o chefe. Ele não é casado, só tem vergonha de assumir que tem um relacionamento com a secretária e sempre inventa mil desculpas para deixá-la na mão sempre que ela mais precisa dele e ela faz o papel de namorada compreensiva porque "não é justo com ele", "quando ele for promovido, como prometeu, ele vai me assumir", ou ainda "ele não pode agora porque vive ocupado". Vai por mim, Holly, eu já passei por isso e quando o cara realmente está a fim de você, ele arruma um jeito de estar com você, sempre. Claro que quando estamos apaixonadas, nunca vemos isso porque o amor nos deixa cegos, surdos e burros, é o que eu sempre digo.
   Já Alex vai parar em Londres como professor em uma nova escola, é tudo muito novo pra ele, que antes lecionava na cidade natal Mochton. Teve que contar com a ajuda do seu amigo Kev para tentar se adaptar na cidade, tentar alugar um apartamento, fazer os alunos gostarem dele... Mas Kev não mora com ele, só o ajudou a de adaptar. O pai dele conhece a mãe de Holly, e ambos tem a ideia de passar o e-mail dela para ele. Aquela primeira conversa por e-mail foi curta e estranha, depois de dez anos você acaba reencontrando uma amiga muito querida, mas se passaram tantos anos que os assuntos que conversavam meio que se perderam no caminho. Mas apesar do primeiro contato ter sido estranho, eles marcaram de se encontrarem pessoalmente e foi como se o tempo não tivesse passado. Claro que o amor que tinham um pelo outro foi adormecido, mas foi como reencontrar um velho amigo, em que por mais que o tempo tenha passado vocês acabam se divertindo da mesma maneira de antes. Todos o problemas desaparecem, tudo fica melhor. Mas a verdade é que amigo de verdade é aquele que está com você nos bons e nos maus momentos. Ri com você, chora com você, oferece o ombro amigo, dá conselhos e opiniões. E foi assim que um se mostrou ao outro. As coisas não são mais como no ensino médio, agora ambos tem problemas de adulto para resolverem e numa hora dessas é sempre bom ter alguém ao seu lado. Holly era uma mulher melhor quando estava com Alex, e Alex também se sentia melhor com ela por perto.
   Mesmo e eles não ficassem juntos no final (você vai ter que ler para descobrir), o livro vale a pena justamente por causa da relação entre os personagens, que parecem tão reais, que tem problemas que todos nós temos, as mesmas dúvidas e as mesmas certezas, também acertam assim como cometem incríveis besteiras. É perfeito para quem se identifica, para quem já passou pelos mesmos dramas ou mesmo para quem quer descontrair na leitura, ler algo mais leve e gostoso.    


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Série do Dia: Hart of Dixie

capa da primeira temporada da série, representa bem o sentimento da personagem: sentindo-se sozinha em um lugar novo, mas não se preocupe, no decorrer da mesma temporada, as coisas começam a mudar para a protagonista, a Dra. Zoe Hart.

Hart of Dixie acompanha a história da Dra. Zoe Hart, uma médica recém-formada que acaba aceitando o convite de um estranho e indo morar na cidade de Bluebell, no Alabama, A virada em sua vida se dá após perder uma bolsa de estudos em Nova York por acharem que ela trata os pacientes como objetos, não pessoas.
Porém, a vida na pequena cidade de Bluebell não é tão simples assim. Além de ter problemas com o outro médico da cidade, Zoe ainda percebe que de pacata Bluebell não tem nada. Ali ela encontra não apenas um caminho para sua vida, mas descobre mais sobre seu passado e entende melhor a relação conturbada existente entre seus pais e ela. A série marca o retorno de Rachel Bilson, a eterna Summer da série The O. C. para o mundo da televisão após quatro anos de ausência.
(sinopse do site Minha Série).

 Aqui nesta imagem o elenco principal está todo definido. Zoe no centro; à esquerda, Anabeth, uma das melhores amigas de Zoe, e também é amiga de Lemon Breeland (loira à direita); ao seu lado está o prefeito de Bluebell, Lavon Hayes, melhor amigo de Zoe; o advogado da cidade, George Tucker; à direita, Wade Kinsella, barman e vizinho de Zoe; Lemon Breeland e seu pai ao fundo, o outro médico da cidade que vai disputar com Zoe por pacientes, o Dr. Brick Breeland.
Aqui no Brasil, a série foi exibida no canal SBT e no canal E! sob o título de " Escolhas do Coração". Teve quatro temporadas, sendo três no formato padrão americano de 22 episódios e a quarta temporada teve apenas 10 episódios, em que todos já sabiam ser o final. Por conta da gravidez da atriz Rachel Bilson, o roteiro da última temporada teve que ser adaptado, mas nem por isso deixando a desejar, pelo contrário, teve um dos finais mais emocionantes de todas as séries que eu já vi, ganhou um espaço no meu coração como uma das melhores séries de todos os tempos (desculpa mas essa é só a minha opinião, infelizmente ela não caiu na lista oficial das melhores).
Confesso que no começo não dava muito valor a ela, para mim era sobre uma garota nova-iorquina super estilosa aprendendo a viver uma vida no interior, mas depois fui me identificando com as trapalhadas de Zoe, que além de desastrada, fala demais (também tinha inveja de suas roupas e dos gatos que ela pegava!). Com o tempo, a série foi evoluindo cada vez mais, me conquistando cada vez mais, como os personagens ganhando destaque e maior profundidade em suas personalidades e a série passou a ser sobre as pessoas daquela cidadezinha, não só sobre a Zoe. Annabeth, de figurante na primeira temporada passou a ser uma personagem de destaque, com direito a dois pares românticos a partir da terceira temporada. E Lemon Breeland, de antagonista na primeira temporada, passou de esposa exemplar a mulher independente, dona de seu próprio restaurante e grande empreendedora, ou seja, ela deixa de focar sua vida no amor e passa a ver que ela também pode ter outras habilidades além de ser uma "Belle"(Belles são um grupo de mulheres da cidade que se reúnem para organizarem eventos de ordem histórica e turistica para promover a cidade).
A qualidade da produção e do roteiro foram pontos de destaque da série, que tem um estilo simples de narrar uma história e personagens cativantes. Trata-se de uma série de comédia composta de tramas pequenas, situada em uma cidade pequena. Ela tem aquilo que há de melhor em séries de tv americana: todos os personagens se conhecem e se entendem como se fossem uma família, como aqueles tradicionais filmes de histórias interioranas, em que todos são acolhedores com quem chega e que cada personagem que sai deixa saudades, de tão próximos que são de todos nós. Enfim, vale a pena ver, ter, compartilhar, indicar. Eu sempre recomendo essa série com todo amor do mundo e sempre me orgulho de ver que a pessoa amou e chorou emocionada no final.

Sem querer dar spoiler, mas como a atriz Rachel Bilson engravidou, consequentemente, Zoe também engravidou, e a despedida foi um verdadeiro musical e que também serviu para matar a saudade de todos, pois o evento reuniu literalmente todos os personagens da série inteira! Aqui está para sentirem o gostinho. E sim, o nome do último episódio se chama mesmo Bluebell.  

terça-feira, 7 de julho de 2015

Resenha: "Procura-se Um Marido"

 
Título - Procura-se Um Marido
Autora - Carina Rissi
Editora Verus
 
Depois de tanto tempo, aqui estou eu mais uma vez com uma resenha novinha em folha! Hoje eu vou falar de um livro que eu demorei para finalmente começar a ler por conta do preconceito com relação ao título. Como a autora veio para Fortaleza, resolvi dar a chance e com certeza não me arrependi. A capa me atraiu, pois a noiva em questão tem um visual de quem pouco sem importa com a opinião dos outros, como combinar uma maquiagem um pouco mais pesada e jogar os saltos em troca de tênis all star surrado. A sinopse também me chamou a atenção de cara, pois a personagem não queria casar, só foi deserdada e para ter sua fortuna de volta ela teria que se casar. Sinceramente, eu no lugar dela faria a mesma coisa, mesmo sendo perigoso. A personagem de Alicia é uma menina que só quer saber de curtir a vida, irresponsável e inconsequente que do nada tem que aprender a ser uma garota comum como todas nós, ou seja, ser responsável, trabalhar, acordar cedo, pegar ônibus... O motivo desta mudança drástica? Ela é herdeira de uma fortuna inestimável de uma indústria de cosméticos e seu único parente e dono de toda a fortuna, o avô Narciso, morre de uma hora para outra e o choque vem também na hora da leitura do testamento, em que ele impõe como condição para que Alicia herde sua fortuna, que ela esteja casada por pelo menos um ano e também teve que trabalhar na empresa sendo mais humilhada que uma estagiária dos anos 90. Foi quando ela e sua melhor amiga Mari tiveram a brilhante ideia de colocar um anúncio no jornal: "Procura-se um marido por curta temporada, paga-se bem" seguido de seu telefone. Eis que quem responde ao anúncio é seu colega de trabalho, irritante mas muito gato. Então eles se casaram em comum acordo, mas o problema era o advogado de seu avô e tutor da fortuna de Alicia, que estava desconfiando do plano e fazendo ameaças a ela. Com o passar do tempo, Alicia acaba se apaixonando de verdade por Max, seu marido de aluguel, enquanto ele a evitava tão friamente. Com o tempo eles se tornam amigos, o que nunca é suficiente para quem é apaixonada, né?
O livro é recheado de momentos engraçados, principalmente quando Alicia tem que pegar ônibus ou usar a copiadora, e a amizade dela com a Mari, com certeza muitas leitoras se identificaram. Outra coisa marcante na personagem é ela ser muito preocupada e zelosa com quem ela ama. No começo do livro ela é só uma dondoca, mas depois que a conhecemos melhor vemos que ela tem um coração enorme, é uma manteiga derretida e morre de medo de magoar quem ela ama, o que acaba deixando seu senso de julgamento cego, confiando em quem não deve e mentindo para proteger quem ela ama. Essa parte sobre mentir para proteger quem ama acaba colocando ela em maus lençóis, pois ela nunca consegue conversar abertamente com Max, seu advogado vive ameaçando ela, prometendo fazer mal a ele caso ela não concorde com seus planos e tudo poderia ser resolvido por diálogo, muitos mal-entendidos se desencadearam porque eles nunca conversavam, portanto não havia confiança, como por exemplo, ele era apaixonado por ela mas achava que ela não gostava dele, enquanto ela achava que ele não gostava dela.
Nesse ponto, o livro deixa uma importante lição para quem pretende entrar de cabeça em um relacionamento. Primeiro, antes de casar, namore, antes de namorar, fique. é necessário conhecer muito bem a pessoa com quem você pretende passar um tempo juntos, ou no caso do casamento, o resto da vida. é preciso conversar para que haja confiança, descobrir coisas em comum, ter química, e só então tomar a grande decisão de se juntar a essa pessoa, não basta só ser apaixonada, um relacionamento não é constituído apenas de amor, é necessário muito mais do que isso para se construir um relacionamento. No caso da Alicia deu certo, mas não vá pensando que se você está solteira por muito tempo e nunca conheceu ninguém que fosse legal o bastante para balançar suas estruturas poderá encontrar o par perfeito em um anúncio de jornal, não é assim que as coisas funcionam. O caso da Alicia foi pura ficção, na vida real tudo o que ela fez poderia ter afastado qualquer homem em sã consciência, por isso Max não existe, ele é perfeito demais para ser de verdade. Me surpreendi positivamente com o livro, é uma boa distração, gostei de ler este livro e virei fã da Carina Rissi depois de ler este livro. Antes dela, a única outra autora nacional que eu tinha lido era a Paula Pimenta, mas seus livro são infantis e de pré-adolescentes, eu procurava algo mais voltado para minha idade e encontrei com os livros da Carina Rissi. Uma ótima diversão para as tardes de sábado, ou no meu caso, para ler no ônibus a caminho do trabalho. Livros assim me fazem trabalhar de bom humor. Uma história simples, mesmo com dramas é bem engraçada e descontraída e personagens cativantes, algo leve e gostoso.
 
Até a próxima!     

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Série do Dia: Revenge


 
 
 
          A série é baseada no livro " O Conde de Monte Cristo", do francês Alexandre Dumas, mas não se engane, aqui você não vai ver um dramalhão tipo novela das 21h, muito pelo contrário, a personagem central Emily Thorne/Amanda Clarke mostra a que veio logo de cara.
         Assim como no livro de Alexandre Dumas, na série a motivação também se dá com a prisão de um inocente. No livro, o próprio personagem principal volta e se vinga de todos, na série, quem assume as rédeas da vingança é a filha de David Clark, que foi acusado pela família Grayson de ser o mentor de um ataque terrorista. Desde criança, Amanda sempre teve a imagem de seu pai sendo preso em sua mente e jurou que todos aqueles que fizeram este mal a ele iriam pagar. Não só pelo seu pai, mas pela sua vida depois disso,indo parar em diversos orfanatos e reformatórios desde então, o que acabou gerando uma momentânea revolta do pai por ter sido preso, mas foi coisa de um ou dois episódios.
         Ao completar 18 anos, o amigo da família, Nolan Ross, vai resgatá-la do reformatório e lhe entrega um presente de seu pai: a caixa do infinito, no qual constam todos os diários e provas de sua inocência, além do poderio de toda a fortuna da família. Em um dos diários, ela encontra uma carta de seu pai em que ele pede para ela esquecer o passado, superar o que aconteceu e perdoar todos aqueles que os fizeram mal. Óbvio que ela optou pelo caminho mais fácil : se vingar daqueles que fizeram mal a ela e sua família, ou seja todos os Grayson sendo os principais alvos. Logo no primeiro episódio ela já declara:
                    
  "This is not a story about forgivness, it's a story about revenge".

 
 
         Através dos diários de seu pai e com a ajuda de seu amigo Nolan, que acaba se tornando seu parceiro por toda a série, ela consegue se infiltrar na comunidade de ricaços dos Hamptons disfarçada de Emily Thorne, nome que ela trocou com sua colega de reformatório. Como uma socialite que só quer se enturmar, ela se aproxima do filho da família Grayson, Daniel, fazendo-o se apaixonar por ela, e com isso ela se aproxima mais do covil do inimigo e arquiteta todo um plano para destruir todos eles e de quebra ainda descobrir quem mais participou da armadilha contra seu pai e ter sua vingança também, tudo isso entre uma tarde com as novas "amigas" e os preparativos do casamento do ano.
        O que eu mais goste na série foi justamente a construção e evolução dos personagens, todos eles conquistaram o público porque tinham a dose certa de bem e mal, nada ali era preto no branco, ninguém era perfeito. Cada personagem tem suas complexidades e características únicas. Outro grande destaque da série é o fato de ela ser totalmente #girlpower. Os personagens homens são coadjuvantes, estão ali para seguir ordens das mulheres que são as rainhas dominantes da série, além das protagonistas Emily Thorne e Victoria Grayson. Os personagens masculinos são simpáticos e muito cativantes, além de eles ajudarem tanto a mocinha como a vilã em seus objetivos, mas no fim das contas, elas sempre ficam por cima em tudo. Mas os personagens masculinos garantem um bom equilíbrio à série, principalmente os que estão do lado da Emily, já que os que estão do lado da Victória são todos manipuláveis. Todos os personagens, sejam eles masculinos ou femininos,  garantem o tom da série, uma série de muitas facetas e com roteiro bastante consistente.
         Uma das coisas que eu mais gosto na série é a forma como cada personagem revida a um ataque. Elas sabem pisar nas inimigas na ponta do salto e incomodar onde mais dói sem precisar puxar os cabelos de ninguém. Em nenhum momento Emily saiu no tapa com ninguém ali, porque ela é uma moça de classe. E esse é justamente outro ponto que eu gostaria de tratar aqui: em determinado momento da série, Emily é vista como vilã, e embora seus atos sejam um pouco controversos, há uma justificativa para tudo e você sempre acaba torcendo por ela porque no fim das contas, Emily tem um código de honra para com seus inimigos. A ordem é fazer eles sofrerem em vida, eles têm que perder tudo o que um dia já conquistaram, assim como fizeram com ela e o pai. Ver os inimigos sofrerem dá sim uma satisfação pessoal, mesmo que você nunca consiga sua vida antiga de volta, é bom mostrar aos inimigos que "aqui se faz, aqui se paga". Voltando ao código de honra de Emily Thorne: ela nunca matou ninguém, nunca se rebaixou ao nível de seus inimigos. O mais próximo que ela chegou disso foi torturar e sequestrar seus inimigos em troca de respostas ou uma confissão pública, como no final da terceira temporada. Código que, infelizmente, não é seguido por seus inimigos, que são implacáveis na hora de armar contra ela. Mesmo ela tendo muitas habilidades, ela acabou perdendo muitos amigos no caminho simplesmente porque cruzaram o caminho de seus inimigos, fazendo- a pagar com sofrimento. Mas Emily não é de desistir fácil: seu principal motivo de vingança sempre foi inocentar seu pai, que morreu como um assassino terrorista e ela era praticamente a única a saber a verdade e sua missão incluía não só se vingar de todos os que fizeram seu pai ser preso e morto, como também reunir provas que a levassem a reabrir o processo de prisão de seu pai e enfim inocentá-lo. No meio do caminho, sua vingança se torna maior justamente porque sua lista de inimigos aumenta e seus instintos de vingança também, já que eles ferem e matam pessoas importantes para Emily.
              Emily realmente não deixa nada para trás, nem ninguém para trás, nunca deixou um serviço pela metade e em se tratando de vingança, ela sabe ser implacável sem com isso perder sua alma. Mas trata-se de um caminho tortuoso e sem volta esse ciclo de vingança, algo que ninguém deve fazer porque é algo muito perigoso, e muito mais do que sua vida estará em jogo. Emily fez e conseguiu escapar das consequências de forma magistral, mas com a ajuda de seus amigos, principalmente Nolan, que entende tudo no mundo sobre tecnologia. Além de amigos, muito dinheiro também ajuda na hora de concretizar seus planos. Como ela disse no final "o carma a livrou da punição" por tudo o que ela fez, porque ela tinha plena consciência de que no momento em que ela iniciasse a vingança, seriam cavados dois túmulos: um para seu inimigo (Victoria Grayson, que foi quem começou tudo) e outro para ela, porém ela sobrevive e ganha um final feliz, não sem antes ganhar como ferida a triste lembrança de tudo e todos os que ela perdeu em prol de sua vingança, que só na última temporada ela percebe que não há mais sentido nisso. Mesmo ela ganhando um final feliz ao lado de seu amado (não direi quem, assistam!), ainda fica aquela sensação de que no fim saiu perdendo. O lado oposto também saiu perdendo, e de forma bem pior do que ela, diga-se de passagem, mas Victória também tinha seus motivos para agir como sempre agiu. Ela se tornou vilã porque a vida a fez assim, ela também passou por muita coisa para chegar aonde chegou e Emily, em busca de vingança, acaba destruindo tudo aquilo que Victória mais amava: a família Grayson. Não o legado, ou o dinheiro, mas a família toda se desfez, o que deixou Victória destruída e sedenta por vingança contra Emily. Como eu disse antes, um ciclo sem fim, que só acabaria com perdão ou morte.  
       

 
        

 
 
 
 
     
 

domingo, 17 de maio de 2015

resenha do livro "Doctor Who - A Mortalha da Lamentação"



autor - Tommy Donbavand
editora - Suma de Letras
176 páginas, brochura, português
preço sugerido - R$24,90


         Com essa resenha eu estou um pouco nervosa porque como amo Doctor Who a pressão é grande e eu não quero fazer feio para os fãs. Apesar de já terem lançado outros livros da série, confesso que este é o primeiro que eu li, e digo: foi o melhor livro do ano até agora! Sabia que não me arrependeria, justamente porque eu amo a série e o Matt Smith foi um dos meus Doutores preferidos.          O meu principal receio com relação a ler qualquer livro relacionado a série foi o pensamento (que imagino que deva ter passado pela cabeça de alguns fãs) de o livro acabar estragando o personagem que amamos ou a história ser totalmente "nada a ver" com a série, só pegar o personagem e inserir em uma história totalmente sem nexo, por exemplo. Mas meu medo se dissipou na primeira página.
         Sabe aquela sensação de nostalgia boa? Quando você se recorda de algo de sua infância, do tempo em que você era feliz (não, eu não sou tão velha assim, o décimo primeiro Doutor saiu só ano passado, mas sim, assistir Doctor Who me deixava, entre outros sentimentos, feliz, como poucas séries conseguem, isso se levar em consideração o fato que eu assisto muitas séries por semestre - ênfase no muitas!). O autor é fã declarado da série, e só podia ser, pois ele escreveu com uma paixão que só se vê em poucos autores hoje em dia. Me emociono ao lembrar do livro e recordar do excelente trabalho que o Matt Smith fez com o personagem. 
         No livro há várias referências a arcos exibidos anteriormente na série e a outros personagens marcantes, desde os regulares até os que, mesmo aparecendo em um único episódio, marcaram a vida do Doutor (saudades Astrid). Como o próprio Doutor disse uma vez que "nunca, em toda a sua existência, eu nunca conheci alguém que não fosse importante". E é isso que eu mais gosto nele, ele pega ao pé da letra a definição de "super-herói". E nessa história tem justamente isso, pessoas comuns cruzam o caminho dele e acabam salvando o dia e o mundo junto com ele e a Clara. Todos eles provaram seu valor na história, nenhum personagem passou de insignificante na história. 
        Minha intenção aqui é falar sobre esse livro especificamente, todas as impressões que eu tive dele, pois se eu falar sobre o personagem em si, o post ficaria enorme, pois há mais de 50 anos de histórias para contar. 
        Como os fãs devem saber, o "Doutor" é um viajante do tempo e do espaço, cuja nave espacial é uma TARDIS (Time And Relative Dimensions In Space) em formato de cabine telefônica azul do estilo anos 60 e que sempre viaja acompanhado, geralmente de um humano, sua espécie preferida em viagens - não que ele não tenha viajado com outros extraterrestres, mas a Terra é seu planeta preferido. Nesta história, ele viaja com a sua atual companheira Clara Oswald e por coincidência, ou pela força da vontade da TARDIS, eles foram parar nos EUA em 23 de novembro de 1963, logo após o assassinato do presidente Kennedy. A missão do Doutor é descobrir qual entidade ou extraterrestre está manipulando a mente das pessoas para que elas vejam imagens de entes queridos que já morreram e essas imagens entram na mente das pessoas, fazendo-as entrarem em desespero e morrerem, e o pior é que essas "mortalhas" estão se espalhando cada vez mais rápido e pelo mundo inteiro. Para derrotá-las, o Doutor contará com a ajuda de um policial, uma repórter e uma turma de palhaços, mas ainda assim ele terá que ser muito forte, pois em se tratando de perder as pessoas que ama, o Doutor é expert nisso, ou seja, prato cheio para as mortalhas. Será que ele vai conseguir, mesmo contando com ajuda? 
        Excelente leitura para um fim de tarde, pois ele é bem fininho, e de quebra ainda mata a saudade de um dos melhores Doutores na minha opinião. Super recomendo!
                       Até logo! 

RESENHA DO FILME: "NÓS QUE AQUI ESTAMOS, POR VÓS ESPERAMOS"



“Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos”

Gênero: documentário.
76 minutos, Brasil, 1998.
Direção: Marcelo Masagão, responsável também pela produção, pesquisa e edição do filme.
Música: Win Mestens.
Consultoria de história: José Eduardo Valadares e Nicolau Sevcenko.
Consultoria de psicanálise: Andréa Meneses Masagão e Heidi Tabacov.

      O documentário, que ganhou vários prêmios Brasil afora, retrata em imagens e com trilha sonora melancólica, toda a história do século XX. O filme mostra o lado humano da história, evocando tanto a beleza quantos os horrores deste século. O título do filme é bem sugestivo com relação ao contexto. Trata-se de uma inscrição que fica na entrada de todos os cemitérios. O significado real não há, mas pode-se supor pelo contexto do lugar – “nós que aqui estamos (os mortos do cemitério) por vós esperamos (esperam pelo Criador)”.
       Todas as fotos, os textos, os trechos e as pessoas, são reais. São histórias que de fato ocorreram. Tragédias que aconteceram em nome do progresso da sociedade. No documentário são mostradas pessoas que ajudaram a construir este século que passou, tanto para o bem como para o mal. Inovações tecnológicas que podem nos ajudar, mas que também podem nos matar, como foi o caso da cena da invenção da eletricidade. Hoje em dia, o que seria de nós sem eletricidade, mas ao ser usada para a invenção das cadeiras elétricas, paramos para pensar onde tudo isso nos levou.
       Uma vez vi em uma série um personagem mencionou que em 900 anos ele nunca havia conhecido alguém que não fosse importante, e isso foi mostrado com bastante clareza no filme. Ao invés de registrar os acontecimentos em ordem cronológica, o diretor registrou em ordem de importância de cada um ali e também a importância de cada acontecimento. Tanto que o filme começa de forma bela, poética até, com cenas de uma peça de teatro francês do início do século passado e logo em seguida, palavras passaram explicando o quão repentino foi a passagem entre os séculos XIX e XX. Foi como se tudo acontecesse de um dia para o outro, totalmente de repente. Foi justamente essa a mensagem que o diretor quis passar para o público, que foi um século que passou depressa, com flashes de momentos belos e trágicos.
         Todo o filme passou como uma obra de arte, além de belo é muito difícil de ser absorvido. Inúmeras vezes, o filme pareceu muito confuso. A parte que mais me emocionou foi justamente o fato de o diretor dar mais importância as pessoas do que a história em si. Cada pessoa que ajudou a construir a nossa história, que foi marcada por momentos poéticos e momentos tristes. O filme foi um “tapa na cara” da nossa sociedade. Senti alegria ao ver todos aqueles rostos e revolta ao ver como foram destruídos todos estes rostos. Enfim, um filme impactante, que vai mexer com os seus sentidos.   

domingo, 29 de março de 2015

UM ESTUDO SOBRE O LIVRO "1984"


1984
autor - George Orwell
gênero - romance/ficção/distopia
416 páginas
editora Companhia das Letras

O livro conta a história da sociedade em Oceânia no ano de 1984, vista pela perspectiva do personagem de Winston Smith. Como o próprio personagem deixa claro em muitas passagens do livro, o ano é incerto, podendo ou não a história se passar em 1984.
Na história, há raros momentos que mostram a vida pessoal do personagem, sendo que tudo o que aconteceu com ele é consequência do governo, assim como a vida de todas as pessoas que vivem no período passado na historia. O pouco que sabemos sobre ele é que se trata de um homem de meia idade, de aproximadamente 39 anos, que vive sozinho em seu apartamento e tem uma vida bastante comum, com rotina não muito diferente da vida dos demais. Em alguns momentos do livro, ele relata sobre sua esposa, desaparecida a cerca de quinze anos e sua mãe que provavelmente também foi levada junto com sua irmã recém-nascida quando Winston ainda era criança. Em nenhum momento seu pai é citado e ele mantém uma relação de indiferença com seus colegas de trabalho e o desenvolvimento da trama se dá após ele iniciar um relacionamento com sua colega de trabalho Julia.
Na verdade, o inicio da trama se dá não só quando ele conhece Júlia, mas desde a primeira página, quando ele começa um ato rebelde: escrever um diário. Estas duas coisas são altamente proibidas, passíveis até mesmo de morte. Com o tempo, podemos perceber que há coisas piores do que a morte, e estas coisas estão em poder do Partido, comandado pelo “Grande Irmão”.
Desde o inicio, percebemos que se trata de uma obra de alto teor politico, não um simples romance. Uma distopia que não há um resquício de esperança ou final feliz. Por sorte, se o livro fosse algo profético, nada do que estava descrito na obra aconteceu de verdade. Ao mesmo tempo, muitas das coisas descritas no livro inspiraram muitas coisas que vem acontecendo na sociedade atualmente, como o sistema de espionagem, o culto a sociedade de consumo, o “panem et circus”, como o programa estilo reality show BIG BROTHER.
O MUNDO NO PÓS-GUERRA CONSTANTE.
A sociedade de 1984 vive em constante guerra com os países vizinhos, Eurásia e Lestásia, e o governo mascara os resultados, para que a Oceânia pareça sempre em vantagem, mas a verdade é que eles vivem em regime de pós-guerra, com qualidade de vida péssima e pouquíssimas provisões que devem ser divididas com uma família inteira ou mais. A sociedade vivia em constante miséria, situação muito parecida com os países da Europa no período pós Primeira e Segunda Guerra Mundial. A vida era péssima e a população não via a menor esperança, ou melhor, a população sempre era forçada a acreditar que o que estava diante de seus olhos era a vida dos sonhos de qualquer um, até porque não havia outra vida a que comparar, pois o governo apagava qualquer vestígio de que houve algum passado diferente daquele presente momento. A população não tinha qualquer contato com o mundo fora de Oceânia, eles acreditavam que todo e qualquer estrangeiro era um vilão que veio tomar o que nós temos e arruinar nossas vidas, e estes mantém as mesmas ideias sobre nós. A sociedade se dizia socialista, mas não praticava os ideais do socialismo. A politica da tortura é muito semelhante as ideias espalhadas no período entre guerras, sendo que o Partido julga a si mesmo e ao Grande Irmão como seres superiores e mais inteligentes do que qualquer um que governou estas terras no passado.
SEMELHANÇAS COM O NOSSO MUNDO E O NOSSO GOVERNO.
O livro se torna bastante cansativo por vários motivos, mas com certeza o principal motivo é se basear na nossa realidade, no regime politico outrora conhecido por comunismo, e o a figura do Grande Irmão nos lembra bastante o líder politico Stálin e seu nêmesis, no livro representado como o senhor Goldstein poderia ser muito bem o Trotsky. Uma expressão comumente usada, “o Grande Irmão está de olho em você”, representa o sistema de constante vigilância imposta por vários governos como um modo de prevenção aos ataques inimigos. Nos Estados Unidos, o sistema foi aplicado com maior força em 2011, logo após os ataques terroristas de 11 de setembro. A partir dai todos os nossos movimentos eram vigiados e controlados pelas câmeras do governo. A privacidade já não existia mais e aumentaram cada vez mais o sistema de segurança contra qualquer estrangeiro que tentasse entrar no país, independente de suas entradas serem ilegais ou não.
AS ORIGENS DO DUPLIPENSAMENTO
O termo “duplipensamento” aparece demais no livro, e sua definição é basicamente dois pensamentos contrários que coexistem ao mesmo tempo. Hoje em dia, isso é muito utilizado em debates políticos e filosóficos, fazendo o indivíduo criar seu próprio conceito de cada coisa e implantar a ideia de que não existe uma verdade absoluta, mas várias verdades, de acordo com o que cada um acredita. O lema do governo é o que melhor exemplifica essa ideia:
Liberdade é escravidão!
Guerra é paz!
Ignorância é força!
Esta ideia de governo cria pessoas alienadas, que acreditam em tudo o que o governo diz e faz como sendo o melhor para todos nós, e em determinado momento do livro, um dos líderes do partido cita que a população prefere acreditar que é melhor serem felizes do que serem livres, de que a escravidão imposta a eles é um exemplo de liberdade, que eles usam da força para proclamar sua esperteza, sua superioridade, mas no fundo eles se autoproclamam ignorantes por acharem que estão reivindicando sua liberdade com violência, algo muito parecido com o que costumamos ver no período entre guerras, e que, de acordo com o que eles acreditam, as guerras e os meios de se prepararem para elas são uma forma de algum dia conseguirmos alcançar a paz, pois eles pregam a politica do “que vença o melhor”, com bombas com capacidade de destruir metade do planeta caso um ou outro atacasse primeiro, como uma maneira de “revidar” aos ataques do inimigos.
NÃO EXISTEM RELAÇÕES INTERPESSOAIS E AMOROSAS.
Na sociedade de 1984, o casamento existe com o único propósito de procriação, ou como eles denominam, o “dever com o partido”. Existe uma lavagem cerebral que induz aos casais a não sentirem prazer, e as crianças que nascem desde cedo são enviadas a escolas de treinamento especial para se tornarem vigilantes dos próprios pais, como uma nova geração da policia das ideias, que são os vigilantes do pensamento-crime. As mulheres participam da Liga Juvenil Anti-Sexo, não existem produtos que aumentem o desejo dos homens para elas: vestidos, perfumes, maquiagem ou mesmo lingerie são artigos considerados proibidos para consumo. As relações interpessoais, geralmente acontecem nos intervalos do trabalho, no refeitório. Um raro momento em que eles podem conversar sobre assuntos banais. As pessoas não podem se aproximar, falar baixo ou mesmo visitarem umas as outras em suas casas, mesmo que para assuntos de trabalho. Para que o governo do Grande Irmão funcione, as pessoas precisam ser “robotizadas”, não ter nenhum tipo se sentimento, embora o governo incite o povo a chamarem a si mesmos de camaradas.
MINISTÉRIOS, OU O PARTIDO EXTERNO.
 Outro exemplo claro de duplipensamento são os ministérios que imperam o governo do Grande Irmão, o Socing. Não existe religião na Oceânia, o Deus deles é o Grande Irmão, e os ministérios são ideias contrárias aos seus significados. O Ministério da Verdade conta mentira e altera os fatos para as pessoas. Eles cuidavam basicamente do entretenimento, da educação, belas-artes e noticias em geral. O Ministério do Amor trabalha com tortura, e o seu Departamento mais assustador é a sala 101, a qual, segundo o O’Brien, é a sala em que estão guardados todos os seus medos. Dentre todos, o mais assustador era o Ministério do Amor. Quase ninguém conseguia se aproximar, era tudo cercado com arame farpado e sem janelas. O Ministério da Pujança trata questões econômicas e o Ministério da Paz cabia a guerra, a qual eles utilizavam para manter a ordem e a lei. Era no Ministério da Verdade que tinha o Departamento de ficção, responsável por modificar o conteúdo artístico de tempos anteriores ao da história. Os livros escritos eram totalmente modificados, as canções reescritas e os originais eram descartados, não deixando para trás nenhuma prova de que algo diferente existiu antes. Tudo era refeito por máquinas, os humanos não tinham nenhum controle do que seria reescrito.
O NÚCLEO DO PARTIDO, OU O PARTIDO INTERNO.
Apesar das ideias antissemitas propostas no livro, o núcleo do partido era composto por todos os tipos de pessoas, não havia preconceito no alto escalão do governo. Havia judeus, asiáticos, negros, brancos, entre outros compartilhando os grandes poderes do partido, que via a todos como iguais. Havia uma falsa ideia de igualdade social, onde não havia distinção de raças, nem de classe econômica, embora o nível econômico do Núcleo do partido fosse de padrão bem mais alto do que o partido externo.
OS PROLETAS
Havia ainda uma terceira e última classe de pessoas, os proletas. O governo os deixava de fora porque eles não eram considerados como seres humanos como o restante de nós. Eram como a classe trabalhadora, viviam na periferia, à margem de todas as leis do partido. Em vários momentos, Winston Smith observa que, se houvesse esperança, ela estaria nos proletas. Por ser uma população maior, em teoria, seria muito mais fácil eles se juntarem e montarem uma revolução contra o governo, de forma a derrubá-lo. O único problema é que, na medida em que os proletas estão em número maior, o governo usa de seus artifícios para acuarem-lhes, de forma a deixarem eles alienados a ponto de se sentirem incapazes de lutar contra o governo.
O NOVO IDIOMA: NOVAFALA.
Outra forma do governo se firmar na mente das pessoas era ciando um novo idioma para abolir totalmente toda a ideia de liberdade, amor e outras coisas que o governo tentava abolir. De acordo com eles, se as palavras não existissem, não haveria como eles atribuírem um significado para algo que eles não conhecessem. O dicionário era sempre atualizado de forma a que o número de palavras se reduzisse cada vez mais. Era mais um meio de opressão do governo, que além de pregar uma imagem negativa dos estrangeiros (dois minutos de ódio), nos proibia de pensar até mesmo de forma involuntária (pensamento-crime e policia das ideias) e ainda por cima vigiava todos os nossos movimentos através de uma tela que não pode ser desligada de maneira alguma, na qual o governo observa em todos os momentos todos os passos e até pensamentos das pessoas. Daí surgiu a expressão “o Grande Irmão está de olho em você!”, pois o governo observa nossos movimentos pela teletela.
APRESENTANDO OS OUTROS PERSONAGENS CENTRAIS: JULIA E O’BRIEN.
O personagem de O’Brien era uma espécie de representação física das ideias do Grande Irmão. Manipulador e engenhoso, em determinado momento chega a agir como se fosse do lado dos “mocinhos”, fingindo disposição a ajudar na derrubada do governo para depois jogar contra Winston toda a perfeição do governo e o que eles fazem com as pessoas. Ele acreditava em tudo o que lhe convinha e era mestre em se fazer acreditar. Suas ideias de manipulação cerebral iam muito além da tortura. Ele tem a capacidade de entrar na cabeça das pessoas e sugar a sua alma. Antes de matar, ele faz com que as pessoas se arrependam no último momento e aprendam a amar o Grande Irmão, agradecendo por todos os meios de tortura que lhes foram impostos. De certa forma, ele é controlado pelas ideias do governo como se fosse um robô, e faz o mesmo com todos aqueles que são presos e torturados. Em certo momento, há a dúvida se ele realmente seria o vilão da história, justamente porque ele acreditava estar fazendo o certo, ele achava que estava combatendo o mal. Do ponto de vista dele, Winston é a pessoa má que está arruinando todo o governo que ele lutou para construir e, portanto, ele tinha que eliminar o mal plantando o bem em Winston, tentar fazer com que Winston veja a bondade no Grande Irmão. Como Winston não podia ver como o Grande Irmão era bom para todos nós, que o mundo se tornou um lugar melhor desde que o Grande Irmão começou a governar?
Já Julia era praticamente uma adolescente que conseguiu viver tempo demais se desviando do governo, ou como ela mesma costuma dizer “sou boa em me manter viva”. De acordo com ela, para desrespeitar as regras do governo era preciso manter as aparências, de modo que ninguém suspeitasse que você estaria fazendo algo errado. Ela dividia um apartamento com várias outras mulheres e conhecia os melhores esconderijos para encontrar vários homens e se divertir. Ninguém nunca desconfiaria dela justamente por ela ser membro entusiasmado da Liga Juvenil Anti-Sexo e declarar toda a sua adoração ao Grande Irmão e ódio ao Goldstein. De inicio, Winston sente raiva dela, justamente para disfarçar o grande desejo que sentia e pelo fato de que nunca a teria em seus braços. A personagem dela não é muito consistente, de modo que serve apenas para contrabalancear o temperamento de Winston. Ele é um homem preocupado, que vive com medo de ser pego pela Policia das Ideias, velho, doente e cheio de problemas. Somente a partir do momento em que a conhece ele decide tomar coragem de fazer algo. As ideias estavam em sua cabeça, mas nunca foram sequer ditas antes de ele conhecê-la. Ela é jovem, bonita, cheia de energia, totalmente despreocupada e não está nem ai para o governo ou o Grande Irmão, sempre teve o cuidado de se manter longe de problemas e acreditava em seus sentimentos mais do que em qualquer outra coisa. Enquanto Winston pensava que eles seriam mortos, ou melhor, que já estavam mortos, ela pensava que, por mais que eles fossem torturados, nunca poderiam extrair a humanidade deles, ninguém conseguiria extrair deles o amor ou a consciência de quem são e do que querem. No entanto, o governo realmente é capaz de fazer o inimaginável: fazê-los traírem a si mesmos e manipularem as suas mentes a acreditarem no poder do Grande Irmão. No final, quando eles se reencontram, já não há nenhum sentimento entre eles nem com eles. Não que eles não sentissem nada um pelo outro, mas sim pelo fato de eles já não terem mais consciência ou capacidade de pensar ou sentir nada, ou seja, o governo os deixou vazios e inumanos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O QUE FEZ 1984 SE TORNAR UM CLÁSSICO
Caso a minha experiência em ler o livro e entender o contexto histórico não tenha sido suficiente, resolvi deixar para o fim refletir sobre o que o livro fala.
Para um melhor entendimento do conteúdo, organizei em tópicos as partes mais importantes, o conteúdo que define a ideia central do livro. Trata-se de uma distopia feita à moda antiga, do tipo que não termina em final feliz. Nunca foi essa a intenção de George Orwell. A ideia era uma critica ao governo da época em que fora escrito, por volta de 1949, um ano antes da morte do autor por tuberculose. Ele presenciou duas guerras e a decadência que se originava delas. Como as pessoas tentavam sobreviver em meio à miséria, a fome e ao desemprego. A corrida armamentista e a crescente indústria da tecnologia nos dava uma perspectiva ruim em relação ao futuro. O livro não se trata de uma profecia, pois ainda estamos longe de tal futuro. Ele não foi primeiro nem será o último autor a retratar um futuro de terror imposto principalmente pelo governo, pois é na mão do governo que está o destino da maioria da população, e é justamente pela população que eles chegam ao poder. De certa forma, serve para conscientizar a mente das pessoas na hora de decidir quem colocar no poder, caso a escolha seja ruim, as consequências seriam desastrosas. Pode não ser tão ruim quanto o livro, mas ruim o suficiente para sofrerem e se arrepender por isso. Apesar de ser uma leitura bastante cansativa justamente por não ter história e os personagens não desenvolverem um conteúdo além da própria figura do Grande Irmão, fica um pouco mais fácil quando associamos com algo que mexe com nossa cabeça. O assunto é pertinente desde que foi lançado e ainda se falará do livro por muitas décadas, pois se trata de um assunto atemporal, que será discutido enquanto a sociedade for humana e tiver a capacidade de refletir sobre o assunto. Até lá, o livro influenciará muitas outras obras atuais, desde livros, series de tevê, quadrinhos e filmes, e até mesmo o reality show Big Brother (qualquer semelhança não é nenhuma coincidência).