O
dia foi perfeito, é noite de lua cheia, e Clara está ali, de pé diante da
parada de ônibus com uns amigos e o rapaz que ela sempre amou em segredo, que
estava também entre eles: Henry, um rapaz da faculdade que ela conheceu em um
encontro literário. Fazia poucas horas que ela havia concretizado um dos seus
grandes sonhos, mas ainda se sentia meio sem jeito de contar a eles. “Boba”.
Pensou consigo mesma. Eles meio que já sabem, ela só não soube expressar
exatamente o que sentia no momento. Mas no momento em que ela fecha seus olhos,
algo acontece:
—Como
está se sentindo?
—Como?
– pergunta ela meio distraída. Por algum motivo, ela tem evitado olhar nos
olhos dele especificamente nesta noite. Seus olhos têm o mesmo brilho desta
enorme lua cheia.
—Sobre
o seu trabalho, era o seu grande sonho, não era? Até tinha me esquecido de te
dar os parabéns. – disse ele olhando fixo em meus olhos. – O que você sente
quando seus sonhos se realizam? Vai ter alguém com você para comemorar, digo,
sua família, talvez?
Antes
de responder, vieram muitas coisas em sua cabeça que a deixaram confusa.
Lembrou-se de que vira essa frase em um seriado de TV, provavelmente o One Tree
Hill, em que a personagem pergunta para o mocinho: “quem você quer ter ao seu
lado quando os seus sonhos se tornarem verdade?” se a pergunta fosse formulada
dessa maneira, mesmo com o impacto da surpresa, ela responderia: “É você quem
eu quero ao meu lado quando todos os meus sonhos se tornarem verdade!”, mas não
adiantava sonhar agora, afinal não fora essa a pergunta, ele provavelmente
perguntou se ela iria fazer uma festinha ou algo do tipo. Meio que displicente,
ela respondeu:
—
Eu já estou comemorando, pra mim, não há jeito melhor do que passar com os
amigos.
—
Isso eu pude perceber, mas retomando a minha pergunta: o que você sente com
relação a isso?
Pergunta
difícil, digo, em teoria, era uma pergunta que eu saberia responder com
precisão, mas o que tornava essa pergunta difícil era que quem a fazia no
momento estava encarando-a com estranheza indecifrável, como se estivesse
tentando lhe dizer mais alguma coisa. Com muito esforço, conseguiu dizer, mas
olhando para os seus pés:
—
Me sinto estranha, mas no bom sentido. É como se a felicidade tivesse preenchido
todo o vazio que antes estava dentro de mim. Algumas vezes, a respiração até
falha de tanta emoção. Para mim, está quase tudo perfeito.
Essa
foi a primeira vez que Clara conseguiu “engatar” uma conversa com Henry. Era
como se a lua, o dia e a ocasião estivessem ajudando para que ela arrumasse
coragem para tanto. Quando ela fica nervosa, fala demais. Ela percebeu que
imediatamente ultrapassou os limites de um diálogo normal quando olhou ao redor
e viu que só estavam eles dois na parada de ônibus, e ele a olhava com tanta
admiração e intensidade que ela até ficou assustada.
—
Quase? – ele perguntou, aproximando-se mais do rosto dela.
—
Quase. – ela respondeu sem nem pensar em mais nada. O rosto dele já estava
praticamente colado no dela. Clara simplesmente fechou os olhos e esperou, mas
nada aconteceu.
Quando
ela abriu os olhos, estava novamente na parada de ônibus movimentada por seus
amigos em maioria, tudo estava como antes desse pequeno devaneio. Henry estava
olhando para a pista, meio distraído ao lado dela, quando então ele olha para
ela e diz:
—
Seu ônibus acabou de chegar!
“então
foi só um sonho.” Pensou ela. “Ele sempre será só meu amigo, ele nunca olharia
para mim daquela maneira, como em meu sonho, um sonho que durou menos de um
minuto, por sinal.”
Então
ela acena para os outros que estão sentados e faz o que é de costume deles, dá
um abraço nele, o máximo que pode ter dele por enquanto, pois é o máximo que
ele permitiria, o limite deles, imaginou ela. Quando ele já está em seus
braços, ela diz meio sem jeito:
—
Então... Até breve!
Ela
entra no ônibus e fica a pensar se algum dia teria chance ou coragem suficiente
de lhe falar sobre os seus sentimentos por ele. Foi nesse momento que ela
decidiu deixar pra lá. O tempo sabe o que faz.
*Este
conto é baseado em uma história real, ou não tão real, foi um sonho que eu
sonhei por um breve instante.