“Você consegue sentir?”
“Sinto como se estivesse
flutuando...”.
“Viu? É tão fácil quanto
respirar. Eu sabia que iria conseguir. Agora vamos dificultar um pouco as
coisas”.
Dificultar um pouco as
coisas, como eu sempre me sinto com relação a ele. Quando eu acho que há uma
chance clara, ele resolve “dificultar um pouco as coisas”, me fazendo voltar ao
inicio. O que eu sinto fica só em meus pensamentos, e lá permanecerá, só por
precaução.
Agora estou sozinha,
olhando para cima, ou tentando olhar. O sol é tão forte que me obriga a fechar
os olhos, e quando eu os fecho, me sinto tão leve... o ritmo das águas a se
agitar sobre o meu corpo fazem eu me sentir como se estivesse flutuando, ou
sonhando. E se eu me soltasse, será que eu conseguiria? Não, não é uma boa
ideia, é arriscado. Uma voz em minha mente me lembra:
“Feche os seus olhos,
abra sua mente e se deixe conduzir. Sinta a sensação do seu corpo invadir sua
mente.”
É simples e natural, eu
não preciso fazer nada além de confiar. É como se minha mente e meu corpo não
fossem meus. É uma sensação estranha não poder estar no comando de suas ações,
mas ao mesmo tempo é algo libertador. No começo dá um frio na barriga, mas
depois se torna algo envolvente e profundo. É tão bom...
“Por que você não vem
mais para o fundo?”
A voz dele me distrai,
não percebi que ele estava ao meu lado outra vez.
“Não sei, tenho medo”.
“Medo?”
Parecia que ele ia rir,
mas manteve o rosto sério. Ele continuava me encarando com aqueles olhos
escuros como a noite. Gotas de água escorriam da ponta dos seus cabelos e
desciam em seu abdômen forte. Eu não deveria estar vendo esse tipo de coisa,
pelo menos deveria ser algo bastante natural para mim, mas essa visão me deixa
desconcertada, o fato de ele estar me encarando como se estivesse tentando me
dizer algo que eu não conseguia saber o que era. Ele fazia tudo parecer tão
simples, como se ele fosse uma daquelas pessoas que parecem ter a resposta para
tudo e eu fosse a dramática da história, mas aprender a amar não era tão fácil
como aprender a nadar, aliás, aprender a nadar é difícil, ainda não consigo
ficar totalmente livre na água, ainda fico me sentindo uma idiota,
principalmente perto dele.
Resolvi sair dali rapidamente,
sem dizer nada, sem olhar para ele. Como eu disse, não era assim tão simples,
mas quando eu estava lá dentro eu sentia que poderia sim ser fácil, tão fácil
como respirar. Em teoria, o segredo era simples: se entregar, apenas fechar os
olhos e não pensar em mais nada. Não ter medo do que vai acontecer, apenas
viver o momento, deixar que as coisas corram em seu curso, sem mexer em nada.
Devo deixar as coisas correrem naturalmente assim como correm as águas de um
rio.
“É, tem razão. Eu tenho
medo. Pelo menos estou segura aqui fora da água. Se eu voltar, posso me
machucar.” Eu respondi já do outro lado da piscina, onde ele continuava a me
encarar.
O garoto continuava a
observá-la de longe, mesmo depois de ela já ter ido embora, e disse a si mesmo:
“garota, esse seu medo te impede de viver tantas coisas legais. Você realmente
não sabe o que está perdendo.”disse ele sorrindo para a figura distante da
menina.
Evitei o seu olhar e segui em frente, mas
parei ao ouvi-lo me chamar.
“Alice espera!”
“Lucas?”
“Você precisa confiar em
mim, você precisa acreditar em mim, mas antes de tudo você tem que confiar e
acreditar em você mesma. Você consegue?”
“Eu sei disso, eu
acredito em mim, mas...”.
“Tem sido tão difícil
pra mim quanto pra você. Eu sei o que está passando.”
“Mas você sabe nadar tão
bem, está até me ensinando.”
“Não isso, me refiro a
isso”.
Eu quase saí do chão com
o beijo. Por meses eu desejei fazer isso, eu desejei que ele fosse meu como
agora, mas ele nunca olhava para mim nem por um instante, nem mesmo quando eu
disse o quanto eu gostava dele.
“Desculpe-me, mas não
dá.” Disse ele se afastando.
Fiquei sem entender o
que foi aquilo. Foi alguma coisa que eu fiz de errado?
“O que aconteceu?”
“Eu não quero que nenhum
de nós saia machucado. Agora eu entendo o que você dizia na piscina sobre ter
medo de se machucar. Eu não quero machucar você.”
“Eu esperei por isso por
mais de um ano, e agora eu percebo que...”.
“Não era o que você
queria?”
“Ainda é o que eu quero,
mas é diferente agora. Eu posso te esperar o tempo que for preciso. Muitas
pessoas não entenderiam, mas você só está sendo cuidadoso, só isso. Bem vindo
ao meu mundo!”
“Olha, me desculpe.”
Repetiu ele. “Eu quero você, mas ainda não está na nossa hora, entende?”
Eu entendo, afinal de
contas. Tenho que ser compreensiva, sei que não estou preparada agora, e é bom
saber que ele também não está. Ainda assim, não deixo de lado aquela sensação
de que o que ele falava na aula de natação não era sobre aprender a nadar, mas
a amar. No final das contas, é tudo a mesma coisa mesmo.
“Obrigada.” Eu digo a
ele.
“Pelo que?”
“Você não está pronto
para me amar, eu não estou pronta para nadar. Se eu aprender a mergulhar, você
poderá um dia me amar?
Lucas ri animadamente
diante da minha frase. Soou muito imaturo, mas no fundo, tudo é assim, depende
do ponto de vista, do que você sente no momento. Ele já sabe o caminho, assim
como eu. Resolvi deixar pra lá, como se aquele dia nunca tivesse acontecido,
mas no fundo nunca me esquecerei daquele dia.
Quando olho para o chão,
vejo um brilho intenso de uma pequena moeda. Me abaixo para pegá-la e não sei
por que aquilo me faz rir, e eu continuo a rir quando acordo e a vejo a mesma
moeda na minha cabeceira. Levanto-me e olho ao redor do quarto com uma sensação
estranha. Quando eu chego à sala, eu vejo Lucas Peverell dormindo no sofá da
minha casa. Fico apenas olhando para ele dormindo até que ele acorde
naturalmente.
— A festa deve ter sido
boa. – eu digo.
— Festa?
— Você está no meu sofá.
— Sim, estou. Eu te
deixei em casa e me certifiquei de que você iria ficar bem, pensei que iria te
perder ontem.
— Como assim? Eu não me
lembro de nada. – perguntei sem entender o que estava acontecendo.
— Estava escuro, e seus
amigos haviam lhe roubado o seu amuleto, o que você achou no nosso primeiro
beijo. Eles ameaçaram jogar no mar e você fingiu não se importar, que era só
uma moeda e não significava nada. Eu a observei de longe e me entristeci com a
forma com que você tratou nossa lembrança. Mas quando jogaram a moeda no mar,
você correu atrás e quase se afogou.
Eu refleti sobre o
assunto, mas não consegui me lembrar dessa história. Havia uma mera lembrança
de um momento no mar, quando eu o ouvi dizer que me amava, mas eu só disse um
mero “obrigada.” Ontem tudo estava confuso, mas tenho absoluta certeza de não
ter bebido nada. Estava na praia, e uma sensação estranha tomou conta de mim ao
olhar para a moeda. Eu quis jogá-la fora, mas algo me prendeu a ela, a mesma
coisa que me prende a Lucas agora, acho.
Ele se senta no sofá e
me puxa pela mão, para que eu possa me sentar ao seu lado.
— Que bom que está aqui
comigo. Eu digo abraçada a ele. - Sonhei com o dia em que encontrei a moeda.
— Depois de quase um
ano, você ainda não aprendeu a nadar.
— E você? Eu pelo menos
tentei.
— E quase perdeu a vida
nisso. Eu estou aqui com você desde então.
— Está.
— Você está mais
corajosa e confiante. Isso é bom.
Eu não estava pronta
naquela época, precisava mudar, viver coisas. Precisava me sentir viva o
suficiente para ter coragem de fazer qualquer coisa, e se ele fosse meu, ele
seria algum dia, quando fosse a hora certa.
Às vezes, temos que
deixar o tempo nos conduzir ao nosso destino. Pode ser que haja uma boa
surpresa no caminho. Muitas vezes as coisas não são como a gente pensa que
seria, pode ser até melhor do que o esperado.
Aguardem a continuação desta história...