segunda-feira, 7 de maio de 2012

Faça um pedido 04: Sensações


“Você consegue sentir?”
“Sinto como se estivesse flutuando...”.
“Viu? É tão fácil quanto respirar. Eu sabia que iria conseguir. Agora vamos dificultar um pouco as coisas”.
Dificultar um pouco as coisas, como eu sempre me sinto com relação a ele. Quando eu acho que há uma chance clara, ele resolve “dificultar um pouco as coisas”, me fazendo voltar ao inicio. O que eu sinto fica só em meus pensamentos, e lá permanecerá, só por precaução.
Agora estou sozinha, olhando para cima, ou tentando olhar. O sol é tão forte que me obriga a fechar os olhos, e quando eu os fecho, me sinto tão leve... o ritmo das águas a se agitar sobre o meu corpo fazem eu me sentir como se estivesse flutuando, ou sonhando. E se eu me soltasse, será que eu conseguiria? Não, não é uma boa ideia, é arriscado. Uma voz em minha mente me lembra:
“Feche os seus olhos, abra sua mente e se deixe conduzir. Sinta a sensação do seu corpo invadir sua mente.”
É simples e natural, eu não preciso fazer nada além de confiar. É como se minha mente e meu corpo não fossem meus. É uma sensação estranha não poder estar no comando de suas ações, mas ao mesmo tempo é algo libertador. No começo dá um frio na barriga, mas depois se torna algo envolvente e profundo. É tão bom...
“Por que você não vem mais para o fundo?”
A voz dele me distrai, não percebi que ele estava ao meu lado outra vez.
“Não sei, tenho medo”.
“Medo?”
Parecia que ele ia rir, mas manteve o rosto sério. Ele continuava me encarando com aqueles olhos escuros como a noite. Gotas de água escorriam da ponta dos seus cabelos e desciam em seu abdômen forte. Eu não deveria estar vendo esse tipo de coisa, pelo menos deveria ser algo bastante natural para mim, mas essa visão me deixa desconcertada, o fato de ele estar me encarando como se estivesse tentando me dizer algo que eu não conseguia saber o que era. Ele fazia tudo parecer tão simples, como se ele fosse uma daquelas pessoas que parecem ter a resposta para tudo e eu fosse a dramática da história, mas aprender a amar não era tão fácil como aprender a nadar, aliás, aprender a nadar é difícil, ainda não consigo ficar totalmente livre na água, ainda fico me sentindo uma idiota, principalmente perto dele.
Resolvi sair dali rapidamente, sem dizer nada, sem olhar para ele. Como eu disse, não era assim tão simples, mas quando eu estava lá dentro eu sentia que poderia sim ser fácil, tão fácil como respirar. Em teoria, o segredo era simples: se entregar, apenas fechar os olhos e não pensar em mais nada. Não ter medo do que vai acontecer, apenas viver o momento, deixar que as coisas corram em seu curso, sem mexer em nada. Devo deixar as coisas correrem naturalmente assim como correm as águas de um rio.
“É, tem razão. Eu tenho medo. Pelo menos estou segura aqui fora da água. Se eu voltar, posso me machucar.” Eu respondi já do outro lado da piscina, onde ele continuava a me encarar.
O garoto continuava a observá-la de longe, mesmo depois de ela já ter ido embora, e disse a si mesmo: “garota, esse seu medo te impede de viver tantas coisas legais. Você realmente não sabe o que está perdendo.”disse ele sorrindo para a figura distante da menina.
 Evitei o seu olhar e segui em frente, mas parei ao ouvi-lo me chamar.
“Alice espera!”
“Lucas?”
“Você precisa confiar em mim, você precisa acreditar em mim, mas antes de tudo você tem que confiar e acreditar em você mesma. Você consegue?”
“Eu sei disso, eu acredito em mim, mas...”.
“Tem sido tão difícil pra mim quanto pra você. Eu sei o que está passando.”
“Mas você sabe nadar tão bem, está até me ensinando.”
“Não isso, me refiro a isso”.
Eu quase saí do chão com o beijo. Por meses eu desejei fazer isso, eu desejei que ele fosse meu como agora, mas ele nunca olhava para mim nem por um instante, nem mesmo quando eu disse o quanto eu gostava dele.
“Desculpe-me, mas não dá.” Disse ele se afastando.
Fiquei sem entender o que foi aquilo. Foi alguma coisa que eu fiz de errado?
“O que aconteceu?”
“Eu não quero que nenhum de nós saia machucado. Agora eu entendo o que você dizia na piscina sobre ter medo de se machucar. Eu não quero machucar você.”
“Eu esperei por isso por mais de um ano, e agora eu percebo que...”.
“Não era o que você queria?”
“Ainda é o que eu quero, mas é diferente agora. Eu posso te esperar o tempo que for preciso. Muitas pessoas não entenderiam, mas você só está sendo cuidadoso, só isso. Bem vindo ao meu mundo!” 
“Olha, me desculpe.” Repetiu ele. “Eu quero você, mas ainda não está na nossa hora, entende?”
Eu entendo, afinal de contas. Tenho que ser compreensiva, sei que não estou preparada agora, e é bom saber que ele também não está. Ainda assim, não deixo de lado aquela sensação de que o que ele falava na aula de natação não era sobre aprender a nadar, mas a amar. No final das contas, é tudo a mesma coisa mesmo.
“Obrigada.” Eu digo a ele.
“Pelo que?”
“Você não está pronto para me amar, eu não estou pronta para nadar. Se eu aprender a mergulhar, você poderá um dia me amar?
Lucas ri animadamente diante da minha frase. Soou muito imaturo, mas no fundo, tudo é assim, depende do ponto de vista, do que você sente no momento. Ele já sabe o caminho, assim como eu. Resolvi deixar pra lá, como se aquele dia nunca tivesse acontecido, mas no fundo nunca me esquecerei daquele dia.
Quando olho para o chão, vejo um brilho intenso de uma pequena moeda. Me abaixo para pegá-la e não sei por que aquilo me faz rir, e eu continuo a rir quando acordo e a vejo a mesma moeda na minha cabeceira. Levanto-me e olho ao redor do quarto com uma sensação estranha. Quando eu chego à sala, eu vejo Lucas Peverell dormindo no sofá da minha casa. Fico apenas olhando para ele dormindo até que ele acorde naturalmente.
— A festa deve ter sido boa. – eu digo.
— Festa?
— Você está no meu sofá.
— Sim, estou. Eu te deixei em casa e me certifiquei de que você iria ficar bem, pensei que iria te perder ontem.
— Como assim? Eu não me lembro de nada. – perguntei sem entender o que estava acontecendo.
— Estava escuro, e seus amigos haviam lhe roubado o seu amuleto, o que você achou no nosso primeiro beijo. Eles ameaçaram jogar no mar e você fingiu não se importar, que era só uma moeda e não significava nada. Eu a observei de longe e me entristeci com a forma com que você tratou nossa lembrança. Mas quando jogaram a moeda no mar, você correu atrás e quase se afogou.
Eu refleti sobre o assunto, mas não consegui me lembrar dessa história. Havia uma mera lembrança de um momento no mar, quando eu o ouvi dizer que me amava, mas eu só disse um mero “obrigada.” Ontem tudo estava confuso, mas tenho absoluta certeza de não ter bebido nada. Estava na praia, e uma sensação estranha tomou conta de mim ao olhar para a moeda. Eu quis jogá-la fora, mas algo me prendeu a ela, a mesma coisa que me prende a Lucas agora, acho.
Ele se senta no sofá e me puxa pela mão, para que eu possa me sentar ao seu lado.
— Que bom que está aqui comigo. Eu digo abraçada a ele. - Sonhei com o dia em que encontrei a moeda.
— Depois de quase um ano, você ainda não aprendeu a nadar.
— E você? Eu pelo menos tentei.
— E quase perdeu a vida nisso. Eu estou aqui com você desde então.
— Está.
— Você está mais corajosa e confiante. Isso é bom.
Eu não estava pronta naquela época, precisava mudar, viver coisas. Precisava me sentir viva o suficiente para ter coragem de fazer qualquer coisa, e se ele fosse meu, ele seria algum dia, quando fosse a hora certa.
Às vezes, temos que deixar o tempo nos conduzir ao nosso destino. Pode ser que haja uma boa surpresa no caminho. Muitas vezes as coisas não são como a gente pensa que seria, pode ser até melhor do que o esperado.

Aguardem a continuação desta história...