quinta-feira, 7 de junho de 2012


Meu texto especial do Dia dos Namorados é uma história baseada em fatos reais, algo que aconteceu no meu trabalho. Eu e outras pessoas testemunhamos ao vivo a força do amor vinda de um casal apaixonado. Espero que gostem.
Bastou um olhar...
Ele estava esperando havia um bom tempo. As pessoas começaram a olhar estranho para ele, parado ali daquele jeito, atrapalhando a circulação das outras pessoas que precisavam ir e vir pela loja. Estava começando a cogitar a possibilidade de desistir e ir embora dali. Ela não apareceria. Sequer estava atendendo ao telefone. Resolveu esperar mais um pouco, afinal, não tinha mais nada pra fazer além de esperar por ela. Desde que a conheceu sua vida tem sido assim: sonha com ela, pensa nela acordado, respira o cheiro dos cabelos dela e sente o toque de seus dedos a acariciá-lo. Isso tudo em sua mente. Quando estava com ela pessoalmente, mal podia acreditar na força do destino ao fazer com que se encontrassem e se contentava em apenas olhar pra ela sem se cansar, só na intenção de guardar dentro de sua mente todas as sensações que estar com ela lhe proporcionava. Tudo era mais belo por ela, para ela e com ela. Cada vez que se lembrava da primeira vez em que olhou naqueles olhos, dava um leve suspirar de amor que ele acreditava não existir.
Agora estava parado ali, de pé diante da entrada do local em que se conheceram, segurando um buquê de rosas vermelhas e um livro. Funcionários e clientes olhavam para ele, uns admirados, outros com desdém, outros como algum tipo de louco. Pessoas sussurravam que ela não apareceria, mas ele tentava não ouvir, embora começasse a pensar se ela realmente apareceria, se pensava nele como ele pensava nela.
Ligou para ela mais uma vez e então começou a se lembrar daquele dia. Bastou um olhar e tudo começou...
Tudo o que ele queria era encontrar um lugar em que pudesse sentar e ler um bom livro. Fechar seus olhos e esquecer o resto do mundo, que tudo ao seu redor desaparecesse por alguns minutos. Tudo o que ele queria era encontrar uma cadeira vazia naquela livraria e sentar e ler um livro. Fazia tempo que ele não se dedicava à arte de ler um bom livro, ler por ler, sem nenhum objetivo além do prazer da boa leitura. Naquele dia, ele não estava à procura de nada nem de ninguém, ele deixaria tudo acontecer por acaso, esperaria para ver o rumo que o destino levaria a sua vida.
Era uma linda tarde de verão, o tempo estava ameno, mas dentro da loja os donos sempre tratavam de exagerar no ar-condicionado. Embora sempre houvesse uma música tocando, naquele momento a loja estava em silêncio. Ele parou para observar e ouvir o silêncio, apreciar o momento, e quando achou que não havia nada demais para ser ouvido, resolveu ir até a prateleira mais próxima pegar um livro para ler. Foi então que ao mesmo tempo seus dedos se encontraram com os de uma garota que estava ao seu lado, alguém que ele não notara em meio a todo aquele silêncio. Ele olhou nos olhos dela e viu os castanhos como as profundezas da terra e do infinito. Se este tivesse uma cor, seria castanho como os olhos dela. Eram olhos castanho escuros como o outono, como o entardecer, um crepúsculo dos deuses a saltar dos olhos dela.
— Me desculpe. – disseram os dois ao mesmo tempo.
Ele não conseguia tirar os olhos dela. Ela estava pouco à vontade com o olhar dele e resolveu quebrar o gelo:
— Você gosta de romance?
— Anh...
Foi quando se deu conta do livro que estava em suas mãos. Um romance adolescente, ou não, como ela viria a lhe dizer depois, era um conto de fadas moderno, do tipo que as histórias que conhecemos podem se encaixar no nosso cotidiano, na vida real. Agora ele acreditava que as histórias não eram só histórias, que elas existiam por uma razão.
— A esperança é o que move estas histórias, é o que faz as pessoas lerem o que aparentemente não passa de uma mera fantasia. Sempre há uma escolha, uma opção. Podemos nos conformar com a nossa realidade ou podemos tentar mudá-la para algo melhor.
— Nem nos apresentamos. – disse ele após uma longa pausa. – O meu nome é... (aqui eu quero deixar em reticências, pois como se trata de uma história real, prefiro que seus nomes continuem no anonimato, até porque não memorizei seus rostos e não sei se os vi depois disso).
— Acredito que você venha sempre aqui, por que nunca te vi antes? – perguntou ela.
— Nunca houve oportunidade, ou nunca observamos um ao outro antes.
— É como se o destino tivesse nos unido exatamente hoje, tinha que ser agora, nesse momento, pode acreditar nisso?
— Não até uns minutos atrás. Agora eu entendo o que dizem os poetas e escritores. Isso é tão estranho.
Aquela foi uma longa tarde, mas passou muito rápido para aqueles dois jovens que acabaram de se conhecer. Uma vida inteira ainda não seria o bastante para tudo o que eles viriam a conhecer juntos, a vivenciar e aprender juntos. Como algo tão intenso viria a surgir tão de repente?
Eles não trocaram telefones, nem combinaram de se encontrar outra vez, mas sempre esperavam um pelo outro, sempre na expectativa da hora em que iriam se encontrar outra vez, e sempre se encontravam entre as prateleiras da livraria, sempre recebidos por sorrisos e abraços um do outro, e sempre se despediam com um “até logo!”. Desde aquele dia em que seus dedos se encontraram ao tocar em um livro que ele ansiava por tocá-la outra vez, sentir outra vez o toque dos seus dedos e suas mãos nas dele. Sonhava com o momento em que estariam tão próximos a ponto de sentirem o calor da pele um do outro, e principalmente, queria muito beijá-la e falar abertamente o que sentia enquanto a abraçaria.
Ele não estava nem um pouco acostumado com tal sensação. Já era um adulto, e durante toda a sua adolescência nunca se sentira de tal maneira por nenhuma garota. Ela o fazia se sentir como um garotinho apaixonado, que ficava sem jeito diante da garota dos seus sonhos. E talvez ela nem soubesse disso, ou também poderia se sentir assim sem que ele soubesse, talvez estivesse pensando nele nesse momento, deitada em sua cama sem conseguir dormir, apenas contando as horas ou relembrando o dia em que passaram juntos, assim como ele estava fazendo neste momento.
O dia em que trocaram telefones foi o mesmo dia em que se beijaram pela primeira vez, em uma tarde de chuva.
 Desde a primeira vez que se viram, suas tardes vêm sendo preenchidas com longas conversas sobre livros e cultura em geral, sempre nos corredores e prateleiras da livraria. Houve um dia em que o tempo se fechou, o céu ficou repleto de nuvens cinzentas e carregadas, anunciando uma chuva iminente que não tardaria a vir. A livraria estava calma e silenciosa, são poucas as pessoas que se aventuram a sair de casa em tempo chuvoso, mas lá estava ele com um enorme guarda-chuva. No fundo, nem iria naquele dia, mas fizera uma encomenda que deveria chegar naquele dia, e não havia nada melhor para se fazer em casa de qualquer maneira. Ele esperou por mais de uma hora, e quando já estava de saída, viu um vulto todo molhado na entrada da loja se aproximar dele aos poucos. Ela acabara de chegar diante dele toda molhada e trêmula.
— Meu guarda-chuva foi levado pela ventania. Era um guarda-chuva bem pequeno, eu não achava que fosse realmente chover tanto e por isso também não trouxe um casaco. O sol brilhava em um céu azul perto da minha casa, diferente daqui. – falou ela nervosa e envergonhada por estar diante dele toda molhada.
— Espera, respira e veste aqui. – ele tirou a sua jaqueta e pôs nos ombros dela para aquecê-la. – vamos tomar um café.
Eles se sentaram e pediram um café. Ela comentou:
— Hoje o tempo não está nada bom. Será que vai melhorar?
— Já está melhorando.
— Mas está chovendo torrencialmente.
— Ah, é que aqui dentro nem dá pra perceber. Desculpe.
Ela começou a rir. Ele ficou sem entender qual era a graça, até que ela disse:
— Não precisa se desculpar por causa disso. Você é fofo, engraçado, mas no bom sentido, não se ofenda. Adoro quando você diz coisas assim, como se estivesse sempre nervoso quando está comigo.
Ele pensou em responder, mas os cafés chegaram nesse exato momento. Ficaram em silêncio enquanto tomavam seus cafés, depois passearam pela loja até o tempo melhorar realmente.
 Enquanto desciam a escada rolante, ela fez algo que o deixou surpreso: segurou em sua mão. Quando estavam esperado o transporte, a chuva recomeçou. Ele abriu seu guarda-chuva e ambos ficaram debaixo, tão próximos que quase se abraçavam, tentando afastar o frio com o calor de seus corpos. Seus olhares se encontraram fixamente pelo que pareceram minutos ou horas. Foi quando ele pensou “é agora ou nunca”.
Largou o guarda-chuva próximo a um poste, apertou suas mãos nas dela e, olhando fixamente para ela, segurou seu rosto e a beijou.
Foi o beijo mais incrível e apaixonante de todos. Tinha o sabor da chuva e o cheiro de perfume, misturados com o gosto de café e paixão. O desejo contido de ambos transformou o beijo em algo leve, gostoso e cheio de esperanças no futuro. O telefone estava com cada um desde a hora do café, e para sempre ficaria guardado, junto com a memória deste beijo.  
Fazia três semanas desde a primeira vez em que se viram, e ainda não tiveram nenhum encontro oficial, nem mesmo o namoro havia sido oficializado ainda. Tudo o que eles tinham eram as intermináveis horas passadas na livraria. Um precisava estar na vida do outro. Era só uma questão de tempo, ou de fazer acontecer o momento. Eles só tinham três semanas do primeiro olhar ao primeiro beijo, e isso já era muito tempo para tão pouca coisa. Foi quando ele decidiu então formalizar um pedido de namoro.
Todos os dias eles se encontravam na livraria, foi o lugar em que eles se viram pela primeira vez. Aquela livraria havia se tornado um lugar especial para os dois. Foi onde tudo aconteceu, onde tudo começou. Portanto, seria lá que tudo realmente começaria de verdade, até o fim, se é que houvesse um.
O dia escolhido foi um domingo, a loja normalmente está lotada neste dia, mas ele estava disposto a correr este risco. Já havia combinado com ela na noite anterior, após horas ao telefone, de que este domingo seria um dia especial, embora ele apenas tivesse dito que eles fariam o que sempre fazem todos os dias. Ele queria deixá-la ansiosa tanto quanto ele estaria, mas sem lhe contar absolutamente nada. Chegaria cedo e esperaria.
Ele escreveu uma dedicatória no livro que lhe daria de presente quando ela chegasse. Além disso, havia comprado um enorme buquê de rosas vermelhas, as preferidas dela e as perfeitas para a ocasião. Rosas vermelhas eram perfeitas para um pedido de namoro.
A entrada da loja era a área mais movimentada, pois era onde se localizava o setor infantil, que estava repleto de crianças que estavam assistindo a uma contação de histórias. As pessoas estavam olhando para ele. O garoto com o buquê de rosas vermelhas. Algumas meninas sussurravam “quem será a sortuda?” “se ela não vier, eu fico com ele” “eu queria só o gatinho, não vou precisar das flores” “como eu queria um desses pra mim...” Ele só pensava consigo mesmo: “em breve chegará um pra vocês. Eu já tenho uma escolhida.” Mas a verdade é que já estava esperando há um bom tempo, o que pôs em dúvida se ela realmente apareceria ou se ele voltaria para casa só esperando por mais um dia. Já estava anoitecendo quando ele resolveu ligar. Não queria mais esperar, ou receberia uma resposta dela ou voltaria pra casa o quanto antes. Sempre fora tímido o bastante para não se sujeitar a fazer qualquer coisa em público.
No terceiro toque, ela tendeu:
— Estou a caminho. Talvez demore um pouco, tem um engarrafamento enorme aqui...
— Eu esperarei.
Era o suficiente. Dentre mais alguns minutos ela estaria lá. Só mais um pouco e tudo começaria a partir dali. Sentou e esperou. Depois resolveu esperar de pé aonde ela chegaria, diante da entrada da loja.
“De onde eu estava, no caixa, eu pude ver tudo isso. Eu não acreditava nisso, só em parte, eu acreditava no amor tanto quanto na fada-do-dente. Sempre detestei essa de deixar um dente debaixo do travesseiro, assim como sempre detestei ter alguém ao meu lado dizendo coisas bonitas e declarando seus sentimentos. Eu me lembro de que, neste dia, a minha gestora estava acompanhando o trabalho dos caixas de perto. Ela se aproximou e disse pra mim e pro seu radinho:
— Tem um príncipe encantado aqui na loja hoje.
Sorrindo, eu respondi:
— Eu sei. Ei vi. Um dia vai aparecer um pra mim também. – e olhando para as minhas colegas, disse: - agora eu vou esperar um desses. Achava que não existiam, mas ele não deve ser o último da face da Terra. Deve ter sobrado um pra mim.
Havia pessoas descrentes com relação a isso, até me disseram coisas do tipo: “vai esperar sentada” ou pior: “vai morrer solteira!”. Não sei quanto a mim, mas depois de meia hora, todos acompanharam de perto e até bateram palmas para o feliz casal. Quando eu vi de longe, jurei se tratar de um pedido de casamento ou algo assim, mas fiquei surpresa. Tudo isso era só um pedido de namoro. Foi a coisa mais linda que eu testemunhei de que eu me lembre. Já vi muitas coisas bonitas, mas não pessoalmente, não de verdade, não tão perto de mim. Esse casal, pra mim, é um verdadeiro exemplo do dia dos namorados, do porque de tal data existir. Há mais do que uma simples troca de presentes no dia dos namorados, há algo maior e muitas vezes inexplicável no sentido e significado da expressão “namorados”, algo que só os grandes poetas ou os grandes apaixonados sabem explicar. Eu não sei dizer, afinal sou só uma amadora, mas espero que todos saibam um dia, inclusive eu.”
Feliz dia dos namorados!

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