domingo, 20 de novembro de 2011

Faça um Pedido 01: Feche seus olhos


O dia foi perfeito, é noite de lua cheia, e Clara está ali, de pé diante da parada de ônibus com uns amigos e o rapaz que ela sempre amou em segredo, que estava também entre eles: Henry, um rapaz da faculdade que ela conheceu em um encontro literário. Fazia poucas horas que ela havia concretizado um dos seus grandes sonhos, mas ainda se sentia meio sem jeito de contar a eles. “Boba”. Pensou consigo mesma. Eles meio que já sabem, ela só não soube expressar exatamente o que sentia no momento. Mas no momento em que ela fecha seus olhos, algo acontece:
—Como está se sentindo?
—Como? – pergunta ela meio distraída. Por algum motivo, ela tem evitado olhar nos olhos dele especificamente nesta noite. Seus olhos têm o mesmo brilho desta enorme lua cheia.
—Sobre o seu trabalho, era o seu grande sonho, não era? Até tinha me esquecido de te dar os parabéns. – disse ele olhando fixo em meus olhos. – O que você sente quando seus sonhos se realizam? Vai ter alguém com você para comemorar, digo, sua família, talvez?
Antes de responder, vieram muitas coisas em sua cabeça que a deixaram confusa. Lembrou-se de que vira essa frase em um seriado de TV, provavelmente o One Tree Hill, em que a personagem pergunta para o mocinho: “quem você quer ter ao seu lado quando os seus sonhos se tornarem verdade?” se a pergunta fosse formulada dessa maneira, mesmo com o impacto da surpresa, ela responderia: “É você quem eu quero ao meu lado quando todos os meus sonhos se tornarem verdade!”, mas não adiantava sonhar agora, afinal não fora essa a pergunta, ele provavelmente perguntou se ela iria fazer uma festinha ou algo do tipo. Meio que displicente, ela respondeu:
— Eu já estou comemorando, pra mim, não há jeito melhor do que passar com os amigos.
— Isso eu pude perceber, mas retomando a minha pergunta: o que você sente com relação a isso?
Pergunta difícil, digo, em teoria, era uma pergunta que eu saberia responder com precisão, mas o que tornava essa pergunta difícil era que quem a fazia no momento estava encarando-a com estranheza indecifrável, como se estivesse tentando lhe dizer mais alguma coisa. Com muito esforço, conseguiu dizer, mas olhando para os seus pés:
— Me sinto estranha, mas no bom sentido. É como se a felicidade tivesse preenchido todo o vazio que antes estava dentro de mim. Algumas vezes, a respiração até falha de tanta emoção. Para mim, está quase tudo perfeito.
Essa foi a primeira vez que Clara conseguiu “engatar” uma conversa com Henry. Era como se a lua, o dia e a ocasião estivessem ajudando para que ela arrumasse coragem para tanto. Quando ela fica nervosa, fala demais. Ela percebeu que imediatamente ultrapassou os limites de um diálogo normal quando olhou ao redor e viu que só estavam eles dois na parada de ônibus, e ele a olhava com tanta admiração e intensidade que ela até ficou assustada.
— Quase? – ele perguntou, aproximando-se mais do rosto dela.
— Quase. – ela respondeu sem nem pensar em mais nada. O rosto dele já estava praticamente colado no dela. Clara simplesmente fechou os olhos e esperou, mas nada aconteceu.
Quando ela abriu os olhos, estava novamente na parada de ônibus movimentada por seus amigos em maioria, tudo estava como antes desse pequeno devaneio. Henry estava olhando para a pista, meio distraído ao lado dela, quando então ele olha para ela e diz:
— Seu ônibus acabou de chegar!
“então foi só um sonho.” Pensou ela. “Ele sempre será só meu amigo, ele nunca olharia para mim daquela maneira, como em meu sonho, um sonho que durou menos de um minuto, por sinal.”
Então ela acena para os outros que estão sentados e faz o que é de costume deles, dá um abraço nele, o máximo que pode ter dele por enquanto, pois é o máximo que ele permitiria, o limite deles, imaginou ela. Quando ele já está em seus braços, ela diz meio sem jeito:
— Então... Até breve!
Ela entra no ônibus e fica a pensar se algum dia teria chance ou coragem suficiente de lhe falar sobre os seus sentimentos por ele. Foi nesse momento que ela decidiu deixar pra lá. O tempo sabe o que faz.

*Este conto é baseado em uma história real, ou não tão real, foi um sonho que eu sonhei por um breve instante.

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